quarta-feira, novembro 30, 2005

A Brasileira do Chiado

In the cafe A Brasileira do Chiado
sat the plural Pessoa
Fernando with laughter shaking his lips.
They waited for words to pass among them
and the noise of machines
and silence,
the silence that tasted their mouths
on the deserted wharf.

(Translation by Linda K Marshall )

in forum.poetryconnection.net

Velo, na noite em mim

VELO, na noite em mim,
Meu próprio corpo morto.
Velo, inútil absorto.
Ele tem o seu fim
Inutilmente, enfim.

(Fernando Pessoa)


Bom dia!

terça-feira, novembro 29, 2005

O Tempo que passou

Para o 70º aniversário da morte do Poeta, ocorrida a 30 de Novembro de 1935, avoco já hoje, aqui, duas obras directamente a ele ligadas, que carregam em si o peso do seu nome.

Boa noite!

Palavras d'Ouro

Procure as palavras de ouro pelo nome dos autores em:

Palavras d'Ouro

www.truca.pt/ouro.html

Na véspera do fim

Presságio

Vinham, louras, de preto
Ondeando até mim
Pelo jardim secreto
Na véspera do fim.

Nos olhos toucas tinham
Reflexos de um jardim
Que não o por onde vinham
Na véspera do fim.

Mas passam...Nunca me viram
E eu quanto sonhei afim
A essas que se partiram
Na véspera do fim.

(Fernando Pessoa)

domingo, novembro 27, 2005

Paul Klee Pintor de Poemas


Olhando uma Árvore

São invejados os pássaros
evitam
pensar no tronco e nas raízes
e satisfeitos balanceiam ágeis, todo o dia,
e cantam nas pontas dos últimos ramos.

(Paul Klee)


Por encima de las estrellas

Por encima de las estrellas
buscaré a mi Dios.
Cuando peleaba por el amor terreno
no lo buscaba.
Ahora que tengo ese amor,
he de encontrar a Dios,
que me otorgó favores
cuando estaba apartado de él.
Cómo podré conocerlo?
Sin duda ha de sonreírse de este loco,
de ahí el frescor
de las brisas en la noche de estío.
Para agradecerlo, !muda bienaventuranza
y una mirada hacia aquellas cumbres!

( Paul Klee)

sábado, novembro 26, 2005

O Anjo Exterminador


Ninguém o viu. O anjo das dez
pragas do Egipto. Era um raio
que passava a noite a limpo
as asas como gládios que cortavam
os corpos, o ar, onde passavam
nem um sorriso para o solo
árido, nem um aceno de olhos
voando rumo aos astros.
Era um anjo que ainda irrompe
nos sonhos da Terra, solitário.

sexta-feira, novembro 25, 2005

A Poesia aprisionada num tempo histórico

O teito é de pedra.
De pedra son os muros
i as tebras.
De pedra o chan
i as reixas.
As portas,
as cadeas,
o aire,
as fenestras,
as olladas,
son de pedra.
Os corazós dos homes
que ao lonxe espreitan,
feitos están
tamén
de pedra.
I eu, morrendo
nesta longa noite
de pedra.

(Celso Emilio Ferreiro )

Bom dia!

quinta-feira, novembro 24, 2005

Un Gallo

Em Il Club dei Poeti ( Il primo sito di poesia italiana contemporanea), uma amiga traduziu o meu poema O Galo, emprestando-lhe assim, experimentalmente, uma nova musicalidade. «É una poesia molto serena che non perde musicalità nella nostra lingua.»-Disse.

Un Gallo

Un gallo
cantò e un altro rispose
che stava là,
al suo posto mobile
nel vento,
ogni cosa nera
comincia a disfarsi
in luce,
la notte
passa in altre latitudini,
qualcosa comincia
a muoversi alle finestre,
le case rispondono
riprende nei cortili
la vita domestica
in una ripetizione senza tedio
né delizia,
un gallo
cominciò la routine
in tutto il suo canto
che viene
dal silenzio.

Buona Sera!

quarta-feira, novembro 23, 2005

2 Poemas de Delmore Schwartz


Poeta lendário
norte-americano (1913-1966)
esteve na origem de alguns
poemas escitos e cantados por
Lou Reed













1-This Is a Poem I Wrote at Night, Before the Dawn

This is a poem I wrote before I died and was reborn:
-After the years of the apples ripening and the eagles
soaring,
After the festival here the small flowers gleamed like the
first stars,
And the horses cantered and romped away like the
experience of skill; mastered and serene
Power, grasped and governed by reins, lightly held by
knowing hands.
(...)
It is always darkness before delight!
The long night is always the beginning of the vivid blossom of day.
(excerto)

2-En la cama desnuda, en la caverna de Platón

En la cama desnuda, en la caverna de Platón,
Luces reflejadas se deslizaban lentamente sobre la parede,
Carpinteros martillaban bajo la ventana ensombrecida,
El viento agitó las cortinas toda la noche,
Una flota de camiones extendida cuesta arriba, rechinando,
Con la carga cubierta, como siempre.
El techo se encendió una vez más, el diagrama inclinado
Se deslizó lentamente hacia delante.
Al escuchar los pasos del lechero,
Su esfuerzo en la escalera, el tintineo de las botellas,
Me levanté de la cama, encendí un cigarrillo,
Y caminé hacia la ventana. La calle empedrada
Destacaba la quietud en la que permanecen los edificios,
La vigilia de los postes de luz y la paciencia del caballo.
El capital puro del cielo del invierno
Me hizo volver a la cama con ojos exhaustos.
(excerto)


Boa tarde!

terça-feira, novembro 22, 2005

Adélia Prado -Uma Poesia Social e do Quotidiano

Casamento

Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como «este foi difícil»
«prateou no ar dando rabanadas»
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos pela primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.

(Adélia Prado )


Boa tarde!

segunda-feira, novembro 21, 2005

O Tempo que passou


A 2ª edição de
As Mãos e os Frutos
de Eugénio de Andrade
1960

Haicais

Nº 8

Nenúfares no lago:
uma mesa que Deus põe
a flutuar no vidro.

Nº9

Ver as estrelas:
quando outra vez o punho
da noite bate em nós.

A Noite Urbana

Brilham no vento as luzes vigilantes
dos candeeiros públicos,
fogueiras
para as noites húmidas,
agitam-se as cortinas
da janela que tosse,
enquanto dois vultos
se esquivam abraçados
dos últimos olhares,
entre as varandas dos prédios
há quem procure
num quarto nu a intimidade.


Bom dia!

sábado, novembro 19, 2005

A Poeta Laureada dos Estados Unidos(1993-1995)


Song

When I was young, the moon spoke in riddles
and the starts rhymed. I was a new toy
waiting for my owner to pick me up.

When I was young, I ran the day to it's knees.
There were trees to swing on, crickets for capture.

I was narrowly sweet, infinitely cruel,
tongued in honey and coddled in milk,
sunburned and silvery ans scabbed like a colt.

And the world was already old.
And I was older than I am today.

(Rita Dove)


Boa noite!

sexta-feira, novembro 18, 2005

"D'altri diluvi una colomba ascolto", (Giuseppe Ungaretti)

Como o vento uma pomba
vem voando desde o dilúvio
traz no bico
um ramo de água

Como o silêncio escuta
o mais inefável ruído
como o vento a pomba
escuta

Escuta
dos ramos o murmúrio
e a melancolia
da chamada

Uma pérola pendente
numa gota de água.


Bom dia!

quinta-feira, novembro 17, 2005

Otoños Y Otras Luces

El Otoño Se Acerca

El otoño se acerca con muy poco ruido:
apagadas cigarras, unos grillos apenas,
defienden el reducto
de un verano obstinado en perpetuarse,
cuya suntuosa cola aún brilla hacia el oeste.
Se diría que aquí no pasa nada,
pero un silencio súbito ilumina el prodigio:
ha pasado
un ángel
que se llamaba luz, o fuego, o vida.
Y lo perdimos para siempre.

ngel González )

À Próxima Festa

Só o boi e o jumento comparecem.
E os anjos em multidão
não desferem o cântico
-que é o Céu caindo na noite.

Na grande hospedaria do azul,
no mundo, ou apenas em metade
do mundo, as mangedouras
dormem vazias.

As mãos dos homens sentem
o que faz o coração, fecham
as janelas de Belém
uma vez mais sobre os ruídos,
sobre quem passa preso à Vida.

1/10/1992


Boa tarde!

quarta-feira, novembro 16, 2005

Até Amanhã

olha quem está por perto
toca quem está ao lado
de um abraço bem amigo
um carinho assim sempre é bom
até amanhã

(Tatiana Rocha, cantora e compositora brasileira)

Un Gallo

Em Il Club dei Poeti (Il primo sito di poesia italiana contemporanea), uma amiga traduziu assim o meu poema O Galo, e disse que « é una poesia molto serena che non perde musicalità nella nostra lingua», julgo até que ganha mais, enriquecendo esse simples poema:

Un gallo
cantò e un altro rispose
che stava là,
al suo posto mobile
nel vento,
ogni cosa nera
comincia a disfarsi
in luce,
la notte
passa in altre latitudini,
qualcosa comincia
a muoversi alle finestre,
le case rispondono
riprende nei cortili
la vita domestica
in una ripetizione senza tedio
né delizia,
un gallo
cominciò la routine
in tuto il suo canto
che viene
dal silenzio.


Boa noite!

Haicais

Nº 4

A pedra no lago
parte, em círculos, um Narciso
que se vê ao espelho.


Nº 5

Duas linhas correm
paralelas invisíveis:
o encontro no cais.


Nº 6

Atrás da janela
estão o pássaro e a rosa
presos ao seu corpo.

Bom dia!

terça-feira, novembro 15, 2005

Ostjuden (Judeus de Leste)


Padri nostri di questa terra,
Mercanti di molteplice ingegno,
Savi arguti dalla molta prole
Che Dio seminò per il mondo
Come nei solchi Ulisse folle il sale:
Vi ho ritrovati per ogni dove,
Molti come la rena del mare,
Voi popolo di altera cervice,
Tenace povero seme umano.

7 febbraio 1946

( Primo Levi )


Boa noite!

Lune de Miel

Ils ont vu les Pays-Bas, ils rentrent à Terre Haute;
Mais une nuit d'été, les voici à Ravenne,
A l'aise entre deux draps, chez deux centaines de punaises;
La sueur aestivale, et une forte odeur de chienne.
Ils restent sur le dos écartant les genoux
De quatre jambes molles tout gonflées de morsures.
On relève le drap pour mieux égratiner.
Moins d'une lieue d'ici est Saint Apollinaire
En Classe, basilique connue des amateurs
De chapitaux d'acanthe que tournoie le vent.

Ils vont prendre le train de huit heures
Prolonger leurs misères de Padoue à Milan
Où se trouvent la Cène, et un restaurant pas cher.
Lui pense aux pourboires, et rédige son bilan.
Ils auront vu la Suisse et traversé la France.
Et Saint Apollinaire, raide et ascétique,
Vieille usine desaffectée de Dieu, tient encore
Dans ses pierres écroulantes la forme précise de Byzance.

(T.S.Eliot)

segunda-feira, novembro 14, 2005

O Milénio

O leão não será mais rápido que o boi
em busca de pastagens
o cordeiro e o pássaro
nascerão de uma fórmula poética
e o lobo
o beijo terá na sua boca
Os jogos dos meninos
serão com as aves
uma pomba e uma águia
navegarão
em águas de branco lôdo
Um anjo passará
em forma lírica
ao mundo o seu desejo.

Os Cafés Literários Inventados...

Ler texto em www.atuleirus.weblog.com.pt, in Dos Leitores

Boa tarde!

domingo, novembro 13, 2005

sábado, novembro 12, 2005

A Grande Senhora da Poesia Palestiniana

Enough for Me

Enough for me to die on her earth
be buried in her
to melt and vanish into her soil
then sprout forth as a flower
played with by a child from my country.
Enough for me to remain
in my country's embrance
to be in her close as a handful of dust
a spring of grass
a flower.

( Fadwa Tuqan, Nablus, 1917-2003 )

sexta-feira, novembro 11, 2005

A Matéria Solar


Ao Eugénio de Andrade

Uma pedra ainda fria do silêncio
expõe-se como um corpo
de mulher, franqueia o dorso
ao sol que o Oriente lança
com a sua longa mão
cada manhã ao começarem
as linhas das casas, a copa
das árvores, os telhados
em cujo gume um gato
sacode a sua sombra.


Bom fim de semana!

XVI Bienal de Música Brasileira Contemporânea

Zoom:Hoje, dia 11, pelas 19 horas locais na Sala Cecília Meireles, do Centro de Música da FUNART, Rio de Janeiro, realizar-se-á a estreia mundial de 3 Canções do compositor e oboísta Lúcius Mota para piano e tenor. Uma dessas peças foi escrita sobre um poema de J.T.Parreira ( Kaddish por meu Filho Absalão ). No piano Marina Spodolare e tenor Marcelo Coutinho.

Consulta ao programa disponível em www.funarte.gov.br/download/ano05/bienal_mus05

quinta-feira, novembro 10, 2005

O Tempo que passou



Boa tarde!
















Novembro

A respiração de Novembro verde e fria
Incha os cedros azuis e as trepadeiras
E o vento inquieta com longínquos desastres
A folhagem cerrada das roseiras.

(Sophia de Mello Breyner )

quarta-feira, novembro 09, 2005

terça-feira, novembro 08, 2005

A Batalha Naval

Um porta-aviões americano
e uma catedral gótica
afundam-se lado a lado
em pleno Pacífico.
Até ao fim o jovem cura
toca o órgão.-
Agora aviões e anjos
pendurados no ar
não podem aterrar.

(Gunther Grass )

segunda-feira, novembro 07, 2005

Uivo


(Excerto)

Vi os melhores espíritos da minha geração destruídos pela
loucura , morrendo à fome histéricos nus,
arrastando-se de madrugada pelas ruas dos negros
à procura da droga urgente imperiosa,
tipos fixes com cabeleiras de anjo ansiando pela
antiga conexão celeste ao dínamo de estrelas na
maquinaria da noite,
que pobres e rotos e olheirentos e bêbados ficavam
a fumar na escuridão sobrenatural de
apartamentos com água fria flutuando sobre os telhados
das cidades contemplando o jazz.

(Trad. JPeC, para a D.Quixote, 1973)

domingo, novembro 06, 2005

sábado, novembro 05, 2005

Nazareth

Blockquote Jesús mozo hacía casas.
Miguel de Unamuno



Vivia numa pequena cidade
onde o limite do mundo
parava nas montanhas
Sua presença era discreta
como leve brisa que se ergue
desde a erva e sobe
até ao ar limpo das ramagens
Foi seu primeiro e não único
milagre a sabedoria
e erguer casas, como carpinteiro
foi a sua primeira alegria
Os dias passaram
deixando pó nas memórias
da infância, quem dele recordava
o seu olhar, o que dizia
sentia-se com um corpo
a saltar do chão para um rio em paz.


Bom fim de semana!

sexta-feira, novembro 04, 2005

Haicais


A palavra alcança
o coração do silêncio:
floresce o poema.

(Joanyr de Oliveira)






Homenagem a um Amigo e companheiro

Boa tarde!


quinta-feira, novembro 03, 2005

The Millennium

The lion will not be quicker than the ox
in pasture search.
The lamb and the bird
will be a poetical form,
the wolf
will have the kiss in its mouth.
The dove and the eagle
sailing
in waters of white silt.
Then an angel will make
of the Earth a lyric state.


In poetryconnection.net

EnquadrArte


Folha a folha os olhos saltam
para dentro do mundo inesperado.

Bom dia!

quarta-feira, novembro 02, 2005

O Tempo que passou

Bom dia!

Soneto nº 2 de Meditação

Uma mulher me ama. Se eu me fosse
Talvez ela sentisse o desalento
Da árvore jovem que não ouve o vento
Inconstante e fiel, tardio e doce

Na sua tarde em flor. Uma mulher
Me ama como a chama ama o silêncio
E o seu amor vitorioso vence
O desejo da morte que me quer.

Uma mulher me ama. Quando o escuro
Do crepúsculo mórbido e maduro
Me leva a face ao génio dos espelhos

E eu, moço, busco em vão meus olhos velhos
Vindos de ver a morte em mim divina:
Uma mulher me ama e me ilumina.

(Vinicius de Morais)

terça-feira, novembro 01, 2005

O Tempo que passou


Necrologia

Portugal tem nove milhões de habitantes
Lisboa talvez tenha um milhão
Nada disto me pode consolar bem sei
Morreu António Gião
Eu não o conhecia nunca o conhecerei.

(Ruy Belo )