segunda-feira, julho 30, 2012

REGRESSO A CASA


Les Sirens, Leon Belly, Séc XIX, França

E se eu implorar (...) que me liberteis,
devereis amarrar-me com mais cordas ainda”
Odisseia


O doce canto desnudando o coração

o desejo nu, bem amarrado ao mastro

Ulisses não podia

atirar às ondas de Sereias

os seus braços.

30/7/2012

segunda-feira, julho 16, 2012

Encontro com James Joyce em Zurique


Perdoa-me, Ezra Pound, que imperturbável
te receba
o meu jardim estiola sobre um epitáfio
lavrado no chão e estou cansado
desta morte
na forma de liga de metal
perdoa-me que olhe para ti
pela cegueira do infinito
Vieste visitar-me, meu velho poeta
meu filho crescido
no bolso do sobretudo é bom que tragas
para desvendar os Cantos de Pisa
os instrumentos para o meu Leopold Bloom
esse homem vacilante do Ulysses
aprender a tua firme sabedoria
Perdoa-me Ezra, que não me levante
mesmo que os meus olhos não consigam
apanhar o teu tão alto tamanho.

16/7/2012

sábado, julho 14, 2012

CONVERSA NOS JOELHOS

Uma noite, sentei a Beleza em meus joelhos.— E encontrei-a amarga. — E insultei-a
Rimbaud


Sentei nos joelhos a suposta inspiração
esperei décadas pelo seu talento
pelo leve sopro de flauta imaginada
por uma asa num verso de poesia
um tigre
que me dá a pata com ternura
uma pomba ornando um telhado
ou uma estrela fugida do tumulto
das galáxias, conversamos:
por que demorou tanto
agora que estou quase a acabar
por que vinha com roupas
impronunciáveis
disse: mas sempre me encontraste
nos silêncios.


13/7/2012

sexta-feira, julho 06, 2012

Vou-me Embora



Há por acaso alguma nova Tróia para incendiar?
É preciso movermo-nos na imaginação
que, tal como as pernas, está a ficar mármore
Haverá alguma coluna ainda ou algum arco a abater
para o futuro, para render o olhar
abismado sobre Roma?
Então nada a fazer
vou-me embora
para a pequena aldeia onde o vento
passe plácido como um regato verde
no pináculo dos pinheiros.

5/7/2012

quinta-feira, julho 05, 2012

O Caminho




 Desde sempre caminhamos para o nevoeiro
com a morte, invisível
às costas
desde sempre à sua maneira
a morte vai penetrando
e num domingo que se apaga cedo
ou numa terça-feira de sol
aperta o vértice do ângulo

-Não
 e não temos letras suficientes
para um tão ínfimo vocábulo.


4/7/2012


Foto de Flor Garduño, México, 1957 -
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