terça-feira, junho 27, 2006

Poema de "Residencia en la Tierra"

Ángela Adónica

Hoy me he tendido junto a una joven pura
como a la orilla de un océano blanco,
como en el centro de una ardiente estrella
de lento espacio.

De su mirada largamente verde
la luz caía como una agua seca
en transparentes y profundos círculos
de fresca fuerza.

Su pecho como un fuego de dos llamas
ardía en dos regiones levantado,
y en doble río llegaba a sus pies
grandes y claros.

Un clima de oro maduraba apenas
las diurnas longitudes de su cuerpo
llenándolo de frutas extendidas
y oculto fuego.

(Pablo Neruda)

segunda-feira, junho 26, 2006

O Aleph de Pablo Neruda

É sabido que Borges e Neruda sempre se detestaram. O mais conhecido conto de JLB, «O Aleph» aprova esta opinião. «No fundo, sempre nos havíamos detestado», diz Borges acerca de Carlos Argentino, que é a personagem-caricatura de Neruda: «rosado, grande, encanecido, de traços finos».
N’«O Aleph», que a dado momento da história nos parece um thriller, pelo suspense da alquimia, Carlos Argentino anda a escrever um «Canto Augural, Canto Prologal ou simplesmente Canto Prólogo». Este longo poema abre as comportas da imaginação para todos os pontos do planeta, intitulado por isso «A Terra». Há assim claramente nesta referência uma crítica mordaz ao Canto General.
Encurtando razões que levaram esses dois Poietés da poesia universal (Neruda e Borges) e, particularmente, da América Latina depois de Ruben Dário, a detestar-se, não poderemos contudo deixar de pensar que na obra magistral de Neruda, Residencia en la Tierra, existe de facto o «aleph». Ora este é um dos pontos do espaço que contêm todos os pontos, do mesmo modo que as residências de Neruda desde o Chile, Argentina, Sri Lanka, Indonésia a Espanha, suportam toda a ambição filosófica da cosmovisão do poeta. Três continentes que o poeta enlaçou e onde, durante um período de 10 anos, desde 1925 a 1935, escreveu Residencia en la Tierra.
Residência na Terra sete décadas depois é a versão portuguesa de José Bento, publicada este mês na íntegra pela Relógio d’Água.

#
Amanhã editaremos um dos mais belos poemas dessa obra. No original, o Ángela Adónica.
#
Vinieron después ( dos «Vinte Poemas de Amor...») las dos primeras partes de “Residencia en la tierra” [1933-1935]. ¡Qué cambio! Todavía emerge en este libro, con el mismo lenguaje, la muchacha, - poética por supuesto, no sé si real -, de los “Veinte poemas,” ya desde la ausencia y la nostalgia de “Madrigal escrito en invierno” y “Fantasma,” ya desde la erótica contemplación de “Ángela Adónica” : “Hoy me he tendido junto a una joven pura / como a la orilla de un océano blanco.” (Ricardo Navas-Ruiz)

quinta-feira, junho 22, 2006

A Nova Mulher



Cada manhã
equilibra um verso
entre os maiores poemas de amor

pequeno-almoço
dos restos do sonho
que desce até ao solo

os ritos do corpo
que custa a desligar-se
do filho no infantário

e o emprego
a uma hora
na melancolia

num minuto a chuva
faz nuvens e o sol
a vir depois

impõe a griffe
dos óculos
como um véu de vidro.

terça-feira, junho 20, 2006

Os problemas da Educação

A Idade da Paixão

como a menina disse
-não vou nunca passar do quarto ano
(pois no ginásio, alega a professora,
virão seios, mênstruo, a infância perdida)
também quero repetir este ano, meu amor

feliz idade é a paixão
almeja o mais, o ainda, o sempre
o verbo no gerúndio
o corpo exasperado
promete e cumpre eternidade

dura enquanto dura o ciúme
que é das fomes, a mais insaciada
depois, é outra idade.

(Mirian Paglia Costa, Londrina, 1947- )

sábado, junho 17, 2006

«Poetas del Mundo»

Poetas del Mundo, movimiento mundial de poetas unidos entorno a valores expresados en el “Manifiesto Universal de Poetas del Mundo”, entidad que ya cuenta con más de 1.200 miembros de los 5 continentes, está organizando el Segundo Encuentro Internacional de Poesía:
“OCTUBRE: Tras las Huellas del poeta” el que se realizará en las ciudades de Santiago, Valparaíso, Isla Negra, Melipilla, Rancagua (Chile) del 12 al 17 de octubre 2006.
A los interesados les rogamos escribir a: info@poetasdelmundo.comv

sexta-feira, junho 16, 2006

ut pictura poiesis

Chagall, La Passaggiata, 1917


Mulher com Cântaro

Para onde vai essa mulher com o sol
dentro do cântaro
sobre os cabelos, o silêncio

vão devagar
as sandálias, devagar
os pensamentos

em cinza a cor rósea
dos pés, o poço
espera desde o fundo

das águas ancestrais
Para onde
vai essa mulher?

Com amor avança
abrindo no ar
os raios solares.

segunda-feira, junho 12, 2006

A bicicleta de Vicente Aleixandre

Lorca, Luis Cernuda e Vicente Aleixandre











Para o Colégio

Ia de bicicleta para o colégio.
Pela rua principal, tranquila, da nobre cidade misteriosa.
Passava cercado de luzes, e os coches faziam ruído.
Passavam majestosos, puxados por nobres baios ou alazões,
de trote imponderável.
(...)
Eu ia de bicicleta, quase alado, candidato ao futuro.
(...)
A fila das árvores era um vapor imóvel, delicadamente
suspenso sob o azul. E eu quase pelo ar,
eu apressado passava na bicicleta e sorria...
e recordo
como em segredo dobrava minhas asas mesmo no umbral do colégio.

(Tradução: J.T.Parreira)

terça-feira, junho 06, 2006

Poema de Basil Bunting


O que disse o presidente a Tom

Poesia? É um passatempo.
Eu brinco com miniaturas.
Mr. Shaw cria pombos.

Não é um trabalho. Você não sua
a camisola. E não recebe por isso.
Você poderia anunciar sabão.

A ópera, isso é arte! ou a opereta-
A Canção do Deserto.
Nancy estava no côro.

Mas pedir doze libras por semana-
casado, não é?-
você tem coragem.

Como poderia olhar a cara
de um cobrador de autocarro
se lhe pagasse doze libras?

De resto, quem diz que isso é poesia?
Meu filho de dez anos
pode fazer uma, e rimar.

Eu ganho três mil e as despesas,
carro, planos de reforma,
mas eu sou director financeiro.

Eles fazem o que eu mando,
na minha empresa.
E você, o que faz ?

Palavrõezinhos, palavrões,
é doentio.
Lavo-me quando encontro um poeta.

Eles são Comunas, viciosos,
todos deliquentes.
O que você escreve é disparate.

Assim diz o senhor Hines, e ele é professor,
tem obrigação de saber.
Vá mas é arranjar trabalho.

(Tradução: J.T.Parreira)