domingo, abril 29, 2007

Charles Reznikoff, traduzido

Magritte, La Victoire

POEMA

Não por causa das vitórias
eu canto,
não tendo nenhumas,
mas pelo comum brilho do sol,
a brisa,
a dádiva da primavera.

Não pela vitória
mas pelo trabalho do dia feito
assim como eu podia;
não pelo assento na tribuna
mas na mesa comum.

(Tradução J.T.Parreira)

sábado, abril 28, 2007

Tudo o que vier depois

Tudo o que vier depois
do fogo, será a matéria
da cinza,

o que vier depois da tempestade,
um lugar
qualquer para refazer os vasos
e moldar o barro,

um silêncio frágil
espalhado pelos dedos.

Tudo o que vier depois
da voz, o eco de um nome
de um amor inesperados

O que vier depois da casa
em ruínas, as formas
do silêncio inabitado

Tudo o que vier depois
da altura, o que vier despido
já da luz e de poesia,

os pássaros difíceis, a chuva
que arde nos olhos, a terra
que na neve tem o toque da ternura.

23-4-2007

sexta-feira, abril 27, 2007

Edith Piaf: Rien

Edith Piaf Non,je ne regrette rien 12-1960


Non, rien de rien
Non, je ne regrette rien
Ni le bien qu’on m’a fait
Ni le mal, tout ça m’est bien égal
Non, rien de rien
Non, je ne regrette rien
C’est payé, balayé, oublié
Je me fous du passé
Avec mes souvenirs
J’ai allumé le feu
Mes chagrins, mes plaisirs
Je n’ai plus besoin d’eux
Balayé les amours
Avec leurs trémolos
Balayé pour toujours
Je repars à zéro
Non, rien de rien
Non, je ne regrette rien
Ni le bien, qu’on m’a fait,
Ni le mal, tout ça m’est bien égal
Non, rien de rien
Non, je ne regrette rien
Car ma vie, car mes joies
Aujourd’hui,
Ça commence avec toi

sábado, abril 21, 2007

O intérprete


O intérprete dos barcos
mete o convés no bojo
de uma elipse
traça a proa num golpe
como corta a água
um barco
se levanta à superfície
dos olhos e sorri a ria
como num espelho os lábios
sorriem ao rosto debruçado.
(Para o pintor Jaime Isidoro)

terça-feira, abril 17, 2007

Despedida

O poeta Joanyr de Oliveira, à esquerda, em 1998

Como Antigona quis
empedrar-me aqui
longe de palavras, de certas
arestas de pedra nas palavras
que vêm de algumas bocas
perturbar nosso canto

Fatigado de mim mesmo
gasto ainda meus olhos
na claridade das metáforas
e cativo fragmentos
de uma rosa desferida
pelo vento
apanhador do voo
das borboletas.

(Para o meu amigo Joanyr de Oliveira)

quinta-feira, abril 12, 2007

Um mendigo

musching a plum on
the street a paper bag
(mascando ameixas pela
rua num saco de papel)
William Carlos Williams

Tira as rugas ao papel
de uma das pernas
das calças, põe
o saco ao ombro
- já andou
por melhores mãos
agora
recolhe meio
comidos restos

O casaco cuja lã é leve
no nono ano cheio
de destinos e
caminhos
retirou há muito
uma das mangas, tem
menos um braço
para abraçar a solidão

Um sapato
vai descalçando
um pé.

quarta-feira, abril 11, 2007

O Tempo que passou

1ª edição, de 1971

BlockquoteAs naus estão agora ajustando as amarras/ Ao cais: oscilam ante a partida. / (...) / As mães vieram abafar o estrondo das naus.



domingo, abril 01, 2007

Regressos

Os teus ruídos
chegaram a casa

a casa encheu
de luz
as janelas

abriram-se cortinas

voaram
no vento

quando
voltaste
a sair

os teus ruídos.

2006