domingo, março 29, 2015

BEFORE THE FALL








“A rebeldia –e o fruto”
John Milton(“Paraíso Perdido”)


 O fruto desenhava-se no ramo, o princípio
da esfera, maçã ou outro pouco importa,
o volume era o da esfera, permanente
circulo da vida para a morte, o fruto
preso  à gravidade da ciência
do bem do mal da tristeza de saber.
O fruto desenhava-se no ar fresco da tarde
e na noite de prata
mais para os olhos famintos do que os lábios,
até ao coração da mulher escarlate.


29-03-2015

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sexta-feira, março 20, 2015

DOM QUIXOTE SEM REALIDADE




 “e não durmo, abrasado, e janto apenas nuvens”
Carlos Drummond de Andrade


Vive, ainda, num lugar da Mancha, de cuja
Imortalidade só um nome resta, o Quixote
Só a lança e a espada são reais nas suas mãos            
Metal a balouçar no vento
E Rocinante
No qual cavalga toda a Espanha


Cinquenta anos, seco de carnes, rosto
Enxuto, olhar rijo contra moinhos
Vara de porcos e odres de vinho
Mulheres?  Só uma
Dulcinea,  que no coração do Quixote
O tropel acalma das vitórias.


20-03-2015

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quinta-feira, março 12, 2015

CALEB



“Há anos que escrevo o mesmo poema”
J. T. Parreira

Sou ainda o mesmo que fui outrora
ainda hoje os mesmos olhos
olham por dentro das mesmas pupilas
e procuram o mesmo infinito

há quarenta anos que sonho
o mesmo sonho
que este passeia pelo monte e lhe cria
um nome, Hebron,
e o soletra letra a letra,
como o nome de um amigo, com
o mesmo suspiro em silêncio

há quarenta anos que espero
então era soldado e lavava
a espada no sangue de gigantes
hoje lavo-a na chuva
que se acumula no vale

sou o mesmo rosto furtivo
à viragem do vento e recalcitrante
à passagem dos dias

há anos que escrevo o mesmo poema
que fala de promessas e de campos largos
e montes para conquistar
a mão do Senhor abrindo a minha
a pulso no papiro

os cabelos que hoje são brancos
já o eram então há quarenta anos:
embora mais longos

© Rui Miguel Duarte
6/03/2015