quinta-feira, abril 29, 2010

O poeta: «Quero dizer um piano»

Poema inédito do colaborador/poeta residente Brissos LinoQuero dizer um piano
na tua boca
aconchegar-te uma intenção de amor
sobre o peito
sussurrar-te aos ouvidos
uma bela canção napolitana
até chegar a ver uma flor amarela
envergonhada
a boiar nos teus cabelos

quero depositar-te o Sol no regaço

e depois esperar toda a sinfonia
que escorrerá
dos teus olhos.

21/4/10


(Brissos Lino)

sábado, abril 24, 2010

Abri o livro


Abri o livro e afundei-me nele
(bem que me tinham avisado
que era objecto perigoso)
só na última página consegui
vir à tona
e os que me esperavam ansiosamente
admiraram-se
com o meu sorriso enigmático
de peregrino
de outros mundos.
23/4/10

(Brissos Lino)

quinta-feira, abril 22, 2010

terça-feira, abril 20, 2010

EYJAFJALLAJOKULL


poema inédito do poeta Brissos Lino

Rugem demónios de fogo
na ilha gelada
a revolta telúrica brada
aos céus
recorrentes indignações

e essa tosse cavernosa e doente
das entranhas
esse cuspir insistente
de braço dado com Éolo
perturba o voo das aves
e dos pássaros de ferro
no mundo dos homens.

20/4/10

(Brissos Lino)

domingo, abril 18, 2010

A beleza a descer a rua

Foto Lisete Model, via papel de rascunho

Dança Pavlova quando passa
Seus pés como lírios do campo
ondulam ao vento, alparcas
aladas de outro tempo

Bebem seus olhos o bulício
das manhãs nas ruas

A rapariga anónima
que estende pelo ar
a sua pressa
e um perfume

Nenhum relógio pára
ou desconta esse momento
da gaia-beleza.
9-4-2010

Inédito originalmente publicado em A Ovelha Perdida

segunda-feira, abril 12, 2010

As ovelhas de Wales

Repousam as bocas na erva
parece um segredo
aos ouvidos da terra
as ovelhas de Wales conhecem
o veludo verde
que estão a respirar
onde o vento deposita
o cheiro
íntimo do mar.

11/4/2010
(fotografia de Jónatas Moutinho)

segunda-feira, abril 05, 2010

A ode chamada marítima


«Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!»
Álvaro Campos


Dispondo do vento sobre o papel
e do cheiro a oceano que vem
do meio da multidão
das águas, sozinho, em pé
no baloiço do meu próprio corpo
escrevo como outrora o hebreu
à beira do Eufrates
e o que choro é um
choro nítido a meu modo
ao cair das tardes
no cais molhado de gaivotas
deserto, pequeno e sem viagens.

2-4-2010

sábado, abril 03, 2010

Revista: trimestrale di conversazioni poetiche

Annelisa Addolorato, Fabiano Alborghetti, Andrea Amoroso, Natasha Bondarenko, Barbara Cannetti, Giampaolo De Pietro, Valeria Di Clemente, Alessandro Ghignoli, Claudio Pagelli, Marina Pizzi, Gabriele Quartero, Silvia Redente, Alessandra Sciacca Banti, Maeba Sciutti, Anna Velieri, voci sul numero
di Aprile 2009
di “π -trimestrale di conversazioni poetiche”.
Revista com poemas de Alessandra Sciacca Banti, poeta e docente universitária em Pisa, e tradutora do meu livro inédito O Regador/ L'Innaffiatoio, para a língua italiana.

sexta-feira, abril 02, 2010

Farol da Barra como espada que corta a noite

Farol da Barra, postal década de 70


“Faróis? São os gumes
da espada
que corta a noite”
J. T. Parreira, in “O que disse p poeta a propósito de faróis”

Uma noite após outra
cadente em gomos
das gavetas do breu
observamos como
a espada de luz
do farol
corta e disseca

longe lá longe
emergindo na distância
sobre a côdea
escura do mar
a ponta da espada
resvala a passagem
dos navios

e nós,
como gotas aspergidas
de espuma do mar
ou como pingos
de noite
à sombra da altura
do farol
sentados na praia

30/03/10

(Rui Miguel Duarte)