quarta-feira, maio 30, 2007

Com uma gaiola vazia




Com uma gaiola vazia uma criança
olha para a linha
de um pássaro
a formar-se no horizonte

a sua forma
de ave vem à frente
um passo
do que a vista alcança

Uma porta aberta
na gaiola range
e o pássaro a contempla
a gaiola e os dois reflexos

da esperança
com que a criança olha
as linhas da ave
tiradas do horizonte.

sábado, maio 26, 2007

The small feet of Pavlova


The small feet of Pavlova
flow in space; leaping
through invisible clouds of air.
Fragile dawns never touching the soil.
Her small golden feet
suspended as fish in
an aquarium of wind.

(To Anna Pavlova)

sábado, maio 19, 2007

As bailarinas de Degas





Uma nuvem passa entre o chão
e os pés das bailarinas
como a nuvem
mudam de forma
e estão poucas vezes em terra
as mãos em pontas
nos braços também aparecem
como a inconstância do vento
as bailarinas de Degas
não precisam do nosso olho
- menos rápido, quase sempre
para as elevar do solo.

19-5-2007

quinta-feira, maio 17, 2007

Poema de Billy Collins



ANDAR ATRAVÉS DO ATLÂNTICO

Eu espero que a multidão das férias despeje a praia
antes de pisar na primeira onda.

Logo eu estou a caminhar através do Atlântico
a pensar na Espanha,
verificando as baleias, as trombas marítimas.
Eu sinto as águas a deslocarem o meu peso para cima.
Hoje à noite eu dormirei nesta superfície móvel.

Mas por agora eu tento imaginar o que
deve parecer aos peixes em baixo,
o fundo dos meus pés que aparecem, desaparecem.

(Tradução de J.T.Parreira)

quarta-feira, maio 16, 2007

Os pastores da Arcádia



Permanecem para lá da pele
da ovelha, permanecem pelo olhar
suave dos cordeiros, em frente
de uma estrada que arrasta
o olhar medroso do rebanho
na civilização das máquinas
Os pastores permanecem, embora à noite
lhes pese nos olhos a ovelha
perdida e ainda tenham,
contra o flanco das cabras,
que retirar o leite.

quinta-feira, maio 10, 2007

Chamo-os

(Uma conversação sobre Hebreus 11, 4, ss )

Os ombros de Abel, de longe
voltam-se para mim
e um cordeiro emana
como nuvem de lã
E Enoque, que saía do chão, volúvel
transparente
para a alegria celeste
Estava Noé no silêncio
da sua janela, no meio de escura água
e olhava para cima, movido
pelas fontes do céu
E Abraão, quando chamado
viu ao longe, desafiou os olhos
para a luz suave das estrelas
Em algum sótão do sono
Jacob necessitava de um pouco
de sonho
E pelas pegadas do gado Moisés,
pelo deserto, regressa
até mim.
Chamo-os, enquanto
Raabe do corpo
desenlaça
um fio escarlate.

quarta-feira, maio 02, 2007

Vilegiatura


Atravessamos braços, pernas
fotográficas, bustos
erguidos ao fogo da beleza
passamos por cima de castelos
de areia, e o ar
não suporta nosso corpo
caímos no mar
Olhamos para o chão, como
se fosse um espaço proíbido.