quinta-feira, abril 30, 2009

O mensageiro

As rugas do teu rosto são as linhas
visíveis da mensagem
lê-se em cada linha
as ruínas da vitória

Com sandálias molhadas pelos rios
com os pés febris, vens do longe
com os olhos, como espelhos
da mensagem

e tocas outras distâncias com o olhar
o coração desocupado, só
a mensagem que carregas
de Maratona é o que importa

Chegas ao teu reino e a tua calma
virá depois da morte.
poema editado, primeira vez, em A Ovelha Perdida

terça-feira, abril 28, 2009

Stephen Crane

A man said to the universe:
"Sir I exist!"
"However," replied the universe,
"The fact has not created in me
A sense of obligation."


Um homem disse ao universo:
"senhor eu existo!"
"Todavia", respondeu o universo,
“o facto não tem criado em mim
um sentimento de obrigação."

(Trad. J.T.Parreira)

Neve em Varadero? Ver aqui


Um poema inédito no Poeta Salutor 2

domingo, abril 26, 2009

Namoro

Depois do violino arrebatar o público
começaram a tocar
os dedos um ao outro
até ao fundo das mãos

A mão esquerda dela disse sim
e a direita dele aprisionou-se
parecia
para sempre.

25/4/2009

sábado, abril 25, 2009

Entrada na lata

7 perguntas que o Samucablogsantos, do Recife, me lançou à queima-roupa, todas ficaram lá com as respostas.




sexta-feira, abril 24, 2009

Leste de Angola (1968-70)

para MC

Lembro-me que lhe escrevia cartas
verdadeiras, as palavras
não eram transparentes
eram como o coração no corpo
sentido em sinais ininterruptos
Veias e artérias
gravadas nas palavras
Recordo que invejava
as cartas que iam tocar a pele
dos seus dedos
Eram cartas verdadeiras
da dor obscura
iriam voar no éter
numa liga de alumínio
A única palavra que recordo
é o amor.

quarta-feira, abril 22, 2009

O tricô de Penélope

Carlo Carrà, L'attesa

Os deuses e os ventos fazem e desfazem
o tricô de Penélope

Escuta o vento
e sabe que ao contrário o barco
de Odisseu
enfuna as velas

Os deuses
vão fechando porta atrás
de porta no Olimpo
assobiam para o lado
e lançam seus olhos
ensonados para o leito
vago de Penélope.

21/4/2009

segunda-feira, abril 20, 2009

1961, variante aqui, no Poeta Salutor 2

Poema 1961, alternativa no Blog Poeta Salutor 2. Ver lá.
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No Samucablog , do amigo poeta pernanbucano, Samuel Santos, a minha tradução de um poema de Ungaretti: O porto submerso. Ler aqui http://samucablogsantos.blogspot.com/2009/04/o-porto-submerso.html#comment-form

Autógrafos (6)




(Fernando Luis Pérez Poza)


sexta-feira, abril 17, 2009

Picasso: "Mosqueteros" - os últimos trabalhos


A última etapa de Picasso pisa pela primeira vez o solo nova iorquino

"An exhibition at the Gagosian Gallery in Chelsea (New York City) features works painted by Picasso in the decade before his death in 1973, including four from 1967."
in The New York Times, de hoje

PICASSO
Picasso dá-nos Coisas
que nos desorganizam os olhos
as linhas correm paralelas, e depois
separam-se, os rostos
ficam de repente de perfil
Les Demoiselles velhas
uma forma hoje
não é amanhã
Picasso deixa a cabeça
a nossa, irrequieta.

Apócrifo de Ésquilo

(Haiku)

"Os turbilhões da neve de brancas asas"
in Prometeu Agrilhoado


O Inverno serve
à neve suas brancas asas:
o invísivel vento.

quinta-feira, abril 16, 2009

quarta-feira, abril 15, 2009

O Tempo que passou

Livraria Civilização, Porto, 1945

Nesta colectânea de narrativas, está Ténebra, que viria a ser conhecida, editorialmente, mais tarde como O Coração das Trevas, e mais tarde ainda em filme: Apocalipse Now, de Coppola.

«A Nellie, uma chalupa de recreio, rodou sôbre o ferro sem o mais pequeno panejar das velas, e ficou em repouso.»
O elemento surpresa, que Conrad soube inserir nas trevas desta novela através da poética dos sentidos, começa aqui: o rio não está em África, é o Tâmisa de onde parte para o mar aberto. Só depois o rio se dilata na rota marítima até ao Continente Negro onde a procura de Kurtz começa.

terça-feira, abril 14, 2009

À imensa maioria

Aquí tenéis, en canto y alma, al hombre
Blas de Otero
Sob esta epígrafe do poeta basco Blas de Otero, um poema inédito publicado no Ovelha Perdida.

segunda-feira, abril 13, 2009

sábado, abril 11, 2009

Na terra de meu pai há leões


Na terra de meu pai há leões

Iluminam
o ar da noite e erguem
dentro dos olhos enormes
o seu poder

Quando os leões atravessam a terra
de meu pai, é um silêncio fundo
como um rio
que avassala amarelo-fulvo

Os leões da terra de meu pai sobem
no espaço como barcos
compridos egípcios, sabem
no alto das ondas do vento
enviar os seus sinais
A savana abre os seus ouvidos
para os leões da terra virgem de meu pai.

quinta-feira, abril 09, 2009

O Poeta

Inédito do meu caro colega de trabalho de poesia, há 37 anos.


Coração que vê
o silêncio
olhos que sentem
um fogo aceso
mãos que escutam
o improvável
ouvidos que afagam
horas de solidão
alma sensível
a lágrimas alheias

sempre atento a esta condição
nua e humana
a este chão incerto
que não pára de se mover
doloroso e aflito.

9/4/09

(Brissos Lino)

Autógrafos (4)

Virna Teixeira (2006)

segunda-feira, abril 06, 2009

A menina do casaco vermelho


Ninguém baixou os olhos, todos
olham a linha de um horizonte
de lenços, bonés, capacetes
de aço, quase tropeçam
na ave que desliza no chão
com plumagem vermelha.


Tão perto de botas e sapatos
que já pisaram o risco da morte
a menina leva no bolso um mistério
ninguém sabe mas a inocência
da vida desliza como uma menina
de casaco vermelho.

6/4/2009

sexta-feira, abril 03, 2009

HAIKU (4)



1.

Nas folhas do livro
Que se abre no Outono
Reaprende a cidade.

(J.T.Parreira)


3.

A mão nos olhos
protege o coração
do vento do sul.

(Brissos Lino)


quinta-feira, abril 02, 2009

Dia do Livro Infantil, com um poema


CRIANÇAS QUE OLHAM OS DRAGÕES

Como as crianças que olham os dragões
os meus olhos ainda se espantam
quando as nuvens passam
num retrato de família
as cores umas às outras
e são algodão
doce e carrosséis

como as crianças que olham
para os dragões, ainda me surpreendo
com nenúfares que põem a mesa
nos rios

Como as crianças que olham
os dragões, os meus olhos
prendem-se aos gestos
das netas e dos netos, e o tenso coração
é uma sombra do que foi
até isso me admira
por causa das Tuas maravilhas.

2-4-2009

HAIKU (3)

O silêncio pousa
sob a pedra da montanha
onde uma águia morre.

(J.C.Brandão)

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Haiku inédito em http://poetasalutor2.wordpress.com/

quarta-feira, abril 01, 2009

HAIKU (2)

1.

A janela filtra
a colmeia humana
solta na rua.

(Brissos Lino)

2.

O silêncio voa:
Águias por cima dos vales
Onde as presas tremem

(J.T.Parreira)