quinta-feira, novembro 30, 2006

Poeta mexicano, Xavier Villaurrutia, 1903-1950*

Nocturno de la Estatua

A Agustín Lazo

Soñar, soñar la noche, la calle, la escalera
y el grito de la estatua desdoblando la esquina.
Correr hacia la estatua y encontrar sólo el grito,
querer tocar el grito y sólo hallar el eco,
querer asir el eco y encontrar sólo el muro
y correr hacia el muro y tocar un espejo.
Hallar en el espejo la estatua asesinada,
sacarla de la sangre de su sombra,
vestirla en un cerrar de ojos,
acariciarla como a una hermana imprevista
y jugar con las fichas de sus dedos
y contar a su oreja cien veces cien cien veces
hasta oírla decir: «estoy muerta de sueño».

*Criador do chamado movimento Los Contemporâneos, equivalente sul-americano à Geração del 27

segunda-feira, novembro 27, 2006

Cesariny(1923-2006)

Cheguei ao Cesariny pelo Rimbaud, em 1963


Cesariny

O homem
que morreu fica hoje
confinado a poeta

Fica hoje confiado
ao espaço
de uma pedra

tumular, fica dentro
de si próprio
o homem que morreu

fica hoje confiado
à poesia.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Recolher Obrigatório


Nos cafés apalpa-se a tristeza.

As luzes tomam o caminho
mais estreito,
o colapso das colunas da noite
fez cair
as sombras nas esquinas,
ninguém
quer uma bala perdida.

Cada dia no entanto
a solidão
penetra as nossas mãos.

terça-feira, novembro 21, 2006

A menina de Ezra Pound

A Menina

A árvore penetrou minhas mãos,
A seiva ascendeu pelos meus braços,
A árvore cresceu-me no peito-
Para baixo,
Os ramos crescem fora de mim, como braços.

Árvore és tu,
Musgo és tu,
Tu és violetas com o vento acima delas.
Uma criança – tão alta – és tu,
E tudo isso é loucura para o mundo.

(Tradução J.T.Parreira)


A Girl

The tree has entered my hands, //The sap has ascended my arms, //The tree has grown in my breast-// Downward, //The branches grow out of me, like arms. //Tree you are, //Moss you are, //You are violets with wind above them. //A child - so high - you are, // And all this is folly to the world.

(Ezra Pound)

sábado, novembro 18, 2006

Giuseppe Ungaretti: uma tradução

VEGLIA

Un’intera nottata
buttato vicino
a un compagno
massacrato
con la sua bocca
digrignata
volta al plenilunio
con la congestione
delle sue mani
penetrata
nel mio silenzio
ho scritto
lettere piene d’amore

Non sono mai stato
tanto
attaccato alla vita


VIGÍLIA

Uma noite inteira
próximo
de um companheiro
massacrado
com a sua boca
a ranger à lua cheia
com o sangue hirto
das suas mãos
cravado
em meu silêncio
escrevi
cartas cheias de amor

Nunca estive assim
tão
encostado à vida

(Tradução de J.T.Parreira)

sexta-feira, novembro 17, 2006

a mão à maneira de e.e.

para e.e.cummings

a mão desliza(nas coisas do amor
a mesma mão que seca as lágrimas)e
faz explodir o silêncio
a mão(que inventa ritmos novos
que guia a criança até a sua casa)aperta
a outra mão.

quarta-feira, novembro 15, 2006

Walt Whitman


AS ADAM EARLY IN THE MORNING

As Adam early in the morning,
Walking forth from the bower refresh’d with sleep,
Behold me where I pass, hear my voice, approach,
Touch me, touch the palm of your hand to my body as I pass,
Be not afraid of my body.

(Walt Whitman)

IGUAL A ADÃO MADRUGADOR

Igual a Adão madrugador,
passeio à frente das ramagens, acordado pela água,
vejam onde passo, ouçam minha voz, aproximem-se,
toquem-me, com a palma da vossa mão passem por mim,
não temam o meu corpo.

(Tradução de J.T.Parreira)



domingo, novembro 12, 2006

a Prostituta

Primeiro os seus olhos deixam
penetrar-se pela noite
O corpo então
passa pelas esquinas
como em paredes de cristal
os cabelos estremecem
sobre os ombros, os lábios
sorriem detrás da flor
carmim
as pernas sobem dos saltos
dos sapatos
por fim, o peito que aconchega
o frio
O único mundo
que cai aos seus pés
as meias, a rosa
íntima
e o vestido.

sexta-feira, novembro 10, 2006

Galeria

Kaddish

La Puerta, de Gabriel Celaya

LA PUERTA

Me he parado, pequeño, ante la enorme puerta
de madera oscura, com bronces historiados.
Debo llamar? Debo esperar? Debo algo?
Parece que sí. No sé. Quizá recuerdo
al niño que trataba de llegar a la aldaba.
Yo tampoco llego, de puntillas, ni en sueños.
Y de pronto la puerta se abre lentamente,
despacio, con el leve chirrido de cien siglos,
y muestra ante mí, ansioso, de par en par, cuadrado,
un espejo de plata, y en él, quien no conozco.

1968

A PORTA

Não continuei, ínfimo ante a porta enorme
de madeira obscura, com bronzes entalhados.
Devo chamar? Devo esperar? Fazer o quê?
Parece que sim. Não sei. Então recordo
o menino que se aplicava para chegar ao trinco.
Tão-pouco chego, nem por sonhos em bicos dos pés.
E logo a porta se abre lentamente,
sem peso, com um leve chiar de cem séculos,
e põe diante de mim, ansioso, um quadro amplo
um espelho de prata, e nele quem não conheço.

(Trad. J.T.Parreira)

Bom fim de semana!

terça-feira, novembro 07, 2006

O Arado

Preso ao arado, atrás
do arado a dupla
condição de homem
e gume.
A terra apagada
começa a florir, no avesso
da terra nasce uma luz
do fundo
da terra vem um gesto
um húmus, uma vaga
de silêncios.
Onde está o caminho para o outro lado
o branco, o magma
para atravessar a dor da água?
Penetrar
até ser também raíz
cansada um dia
e repousar envolto
num lençol
de água.

segunda-feira, novembro 06, 2006

O sol da casa

Sou o que veio por um momento
de sol.

Vim até à beira da janela
até ao hálito da casa.

Venho até ver com o sol
o ouro do campo
da casa.

Uma boca lenta que percorre
o sabor dos quartos
desta casa de terra quente.

Venho até quase à boca desta casa
silenciosa de sol.

(António Ramos Rosa)

sábado, novembro 04, 2006

Claribel Alegría, poeta das memórias

Bloco de textoJuan Ramón me guió los primeros pasos en poesía. Yo quería lanzarme al verso libre y él me condujo a la métrica tradicional. Decía que eso era lo primero antes de aprender a caminar sin muletas.

BARAJANDO RECUERDOS

Barajando recuerdos
me encontré con el tuyo.
No dolía.
Lo saqué de su estuche,
sacudí sus raíces
en el viento,
lo puse a contraluz:
Era un cristal pulido
reflejando peces de colores,
una flor sin espinas
que no ardía.
Lo arrojé contra el muro
y sonó la sirena de mi
alarma.
¿Quién apagó su lumbre?
¿Quién le quitó su filo
a mi recuerdo-lanza
que yo amaba?

Aos 81 anos, a poeta nicaraguense acaba de receber nos Estados Unidos o Prémio Neustadt. Na entrevista que deu ao Babelia, hoje, recorda a influência e a formação junto de Juan Ramón Jiménez.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Voo 0475

: depois descolou da terra o seu peso, subiu
para o tempo inconsútil, a hora de ponta
do azul prateado.
Sob o tráfego aéreo as árvores, as casas, os nomes
das ruas
reduzem os átomos,
magros desenhos, como no verde estampado
da tua blusa sentada com os olhos
presos na janela.
Não a contemplo na sua altivez,
a nave que enfrenta a gravidade, estou dentro,
estou bloqueado numa água azul
num aquário no meio do tráfego, levanto-me,
mas ando sobre nuvens.