“ O que
eu quero é ser eu a lutar e a apanhar o meu peixe.”
Ernest Hemingway ( em "Ter ou Não Ter")
Desde que chegara a Angela Street, depois de
abandonar a sua própria velhice rotineira na Europa, que saía de casa todas as
manhãs muito cedo.
Key West no extremo sul da Florida é o último
lugar da América, vai-se para ele como as abelhas saltando de flor em flor.
Ele são algumas “ilhas” até chegar lá, um mar
de águas largas, e quase transparentes, mas quando se aporta na cidade, o ar
levemente salgado, amarra o forasteiro, como a uma velha escuna.
Quando chegou, na tarde em que Miami ficara
para trás, e ainda mais longe o seu país, ainda sentiu uma nostalgia a humedecer-lhe os
olhos.
Agora, todas as manhãs, sem pensar já nisso,
saía para estar junto do mar. A sua respiração era, como dizer, era marinha.
Isso, percorria as ruas desde a Angela até à
William, para ver o que se passava no Schooners Bar, mais para lançar os olhos
a alguns veleiros e ganhar ideias , depois descia ao Southermost Point. Voltava pela Whitehead St., porque o seu bar
era outro.
Sentava-se, com o gin, uma pedra de gelo que
parecia um iceberg, no Green
Parrot. Gostava do nome e da sua alusão
aos trópicos. Olhava para o copo e
parecia-lhe sempre que a rodela de limão era um jangada.
Ia
para junto do mar. Era a sua companhia, ia tocar-lhe, sentir as mãos cheias de
água do Golfo. Derivava, por vezes, os olhos para o lado da ilha de Cuba, mas a
distância era ainda uma névoa imensa.
Todas as manhãs levava blocos e lápis e as
notas sucediam-se manuscritas, quem o visse, deveria perguntar-se porque não
usava os meios modernos.
Mas o lápis era telúrico, estava ligado ao
solo, como se quisesse ter sempre os dedos sujos de carvão. Escrevia com um
minério que ainda trazia calor à humanidade.
Todas os dias almoçava e jantava pelos bares
da praia, umas vezes na Smathers Beach, outras na Higgs Beach Dog Park. Não
dava por viver sozinho.
Embora não o admitisse, esperava, sem nada
porém que lhe marcasse a jurisdição da espera. Andava perfeitamente descansado,
porque deixava um papel, o mesmo gesto de há anos, pregado na porta: “Estou no
Green Parrot, se chegarem sem avisar”.
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