Ai, Margarida,
Se eu te désse a minha vida,
Que farias tu com ella?
-Tirava os brincos do prego,
Casava c'um homem cego
E ia morar para a Estrella.
Mas, Margarida,
Se eu te désse a minha vida,
Que diria a tua mãe?
-(Ella conhece-me a fundo.)
Que ha muito parvo no mundo,
E que eras parvo tambem.
E, Margarida,
Se eu te désse a minha vida
No sentido de morrer?
-Eu iria ao teu enterro,
Mas achava que era um erro
Querer amar sem viver.
Mas, Margarida,
Se este dar-te a minha vida
Não fôsse senão poesia?
-Então, filho, nada feito.
Fica tudo sem effeito.
Nesta casa não se fia.
(Álvaro de Campos)
4 comentários:
Não conhecia este poema. Gostei da postagem.
Beijinhos.
Hum musica para os meus olhos, gosto muito desse lado pessoano. Abraço.
Gostei particularmente do poema porque para além de me chamar Margarida, venero Pessoa.
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