Madrid é uma cidade de mais de um milhão
de cadáveres (de acordo com recentes estatísticas).
Às vezes agito-me na noite e me
incorporo neste nicho no qual faz
45 anos que apodreço,
e passo longas horas a ouvir gemer o furacão,
ou ladrar os cães, ou fluir maciamente a luz lunar.
E passo longas horas gemendo como o furacão,
ladrando como um cachorro furioso,
fluindo como o leite dos úberes aquecidos
de uma grande vaca amarela.
E passo longas horas perguntando a Deus,
perguntando-Lhe porque apodrece
lentamente a minha alma,
por que apodrecem mais de um milhão de
corpos nesta cidade de Madrid,
por que mil milhões de corpos apodrecem
lentamente no mundo.
Diz-me, que jardim queres adubar
com a nossa podridão?
Receias que murchem teus roseirais do dia,
as tristes açucenas letais das tuas noites?
(Tradução: J.T.Parreira)
Este poema, em castelhano, pode ser ouvido em www.poesia-inter.net/reci0073.htm,
na voz do próprio poeta Dámaso Alonso.
1 comentário:
Gostei. Já estamos linkados.
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