Anne Sexton ( 1928-1974), tal como Robert Lowell ou Sylvia Plath, integrou o grupo dos poetas chamados «confessionais». A poeta, que aos 46 anos se suicidou, oferece ao leitor na sua poesia a visão íntima da angústia, que parece ter caracterizado toda a sua vida de exuberância: de modelo a prémio Pulitzer, em 1967, pelo livro Live or Die. O poema que publicamos no original, e agora na tradução possível, não sendo uma experiência directa que tenha vivido, está na linha do seu inconformismo, daí não ser totalmente estranho o poema After Auschwitz, que enfileira com a observação histórica de Teodoro Adorno, que afirmou ser impossível haver poesia depois de Auschwitz.
Depois de Auschwitz
A ira,
tão preta como um gancho,
atinge-me.
Cada dia,
cada Nazi
tomava, às 8:00, um bebé
e salteava-o para o pequeno-almoço
na sua frigideira.
E a morte contempla com olhar casual
e tira o lixo das suas unhas.
O homem é perverso,
digo em voz alta.
O homem é uma flor
que deve ser queimada,
digo em voz alta.
O homem
é um pássaro cheio de lama,
digo em voz alta.
E a morte contempla com olhar casual
e coça o ânus.
O homem com seus pequenos dedos dos pés rosados,
com seus dedos milagreiros
não é um templo
mas um anexo,
digo em voz alta.
Que o homem nunca mais levante sua chávena de chá.
Que nunca mais escreva um livro.
Nunca mais calce seu sapato.
Nem erga mais os olhos
na noite macia de Julho.
Nunca.Nunca.Nunca.Nunca.Nunca.
Digo essas coisas em voz alta.
Peço ao Senhor que não ouça.
(Tradução: J.T.Parreira)
1 comentário:
Obrigada pela tradução. Valeu a pena.
Enviar um comentário