again the last ebb
the dead shingle
the turning then the steps
toward the lighted town
( Samuel Beckett)
outra vez a última maré
os seixos mortos
à volta dos passos
em direcção à cidade iluminada
(Tradução: J.T.Parreira)
A Poesia é o assunto do Poema - Wallace Stevens . Este Blog não respeita o Acordo Ortográfico.
sexta-feira, março 31, 2006
quinta-feira, março 30, 2006
Um Século de Samuel Beckett (1906-1989)
Amanhã e depois, alguns poemas breves do autor de «À Espera de Godot», por hoje apenas um poema escolhido do Echo's Bones.
The Vulture (O Abutre)
dragging his hinger through the sky
of my skull shell of sky and earth
strooping to the prone who must
soon take up their life and walk
mocked by a tissue that may not serve
till hunger earth and sky be offal
#
Artigo sobre As Ceifeiras de Pessoa e Wordsworth, confira no www.famigerado.com
quarta-feira, março 29, 2006
Poesia Concreta
terça-feira, março 28, 2006
O Tempo que passou
segunda-feira, março 27, 2006
Dia Mundial do Teatro
Desconversável
(A partir da peça «Paisagem» de Harold Pinter)
Gostava de estar ao pé do mar.
É ali, disse ela-
O cão foi-se. Não te disse, diz ele-
Areia nos braços dele, disse ela-
Voavam por ali, numa agitação, diz ele-
Na cozinha
da casa de campo, sentados
ambos, afastam-se
o mais possível
até ao fim
da tarde, as
frases.
(A partir da peça «Paisagem» de Harold Pinter)
Gostava de estar ao pé do mar.
É ali, disse ela-
O cão foi-se. Não te disse, diz ele-
Areia nos braços dele, disse ela-
Voavam por ali, numa agitação, diz ele-
Na cozinha
da casa de campo, sentados
ambos, afastam-se
o mais possível
até ao fim
da tarde, as
frases.
sábado, março 25, 2006
Rita Dove
Adolescence
In water-heavy nights behind grandmother's porch
We knelt in the tickling grasses and whispered:
Linda's face hung before us, pale as a pecan,
And it grew wise as she said:
" A boy's lips are so soft,
"As soft as baby's skin."
The air closed over her words.
A firefly whirred near my ear, and in the distance
I could hear streetlamps ping
Into miniature suns
Against a feathery sky.
Adolescência
Em noites de bátega pesada atrás do alpendre da avó
Ajoelhámo-nos na carícia da relva e sagredámos:
À nossa frente a cara de Linda, pálida como uma noz,
Com a sabedoria precoce disse-nos:
"Os lábios dos rapazes são macios
"Assim quanto a pele de um bébé."
E o ar apertou as suas palavras.
Um pirilampo zumbiu perto da minha orelha, e à distância
Pude ouvir o assobio das lâmpadas da rua
Em diminutos sóis
Contra um céu plumoso.
(Tradução: J.T.Parreira)
In water-heavy nights behind grandmother's porch
We knelt in the tickling grasses and whispered:
Linda's face hung before us, pale as a pecan,
And it grew wise as she said:
" A boy's lips are so soft,
"As soft as baby's skin."
The air closed over her words.
A firefly whirred near my ear, and in the distance
I could hear streetlamps ping
Into miniature suns
Against a feathery sky.
Adolescência
Em noites de bátega pesada atrás do alpendre da avó
Ajoelhámo-nos na carícia da relva e sagredámos:
À nossa frente a cara de Linda, pálida como uma noz,
Com a sabedoria precoce disse-nos:
"Os lábios dos rapazes são macios
"Assim quanto a pele de um bébé."
E o ar apertou as suas palavras.
Um pirilampo zumbiu perto da minha orelha, e à distância
Pude ouvir o assobio das lâmpadas da rua
Em diminutos sóis
Contra um céu plumoso.
(Tradução: J.T.Parreira)
quinta-feira, março 23, 2006
Sylvia Plath
Sheep in Fog
The hills step off into whiteness.
People or stars
Regard me sadly, I disappoint them.
The train leaves a line of breath.
O slow
Horse the colour of rust,
Hooves, dolorous bells -
All morning the
Morning has been blackening,
A flower left out.
My bones hold a stilness, the far
Fields melt my heart.
They threaten
To let me through to a heaven
Starless and fatherless, a dark water.
Ovelhas no Nevoeiro
As colinas descem para a brancura.
Estrelas ou pessoas
Com tristeza olham-me, desiludo-as.
O comboio deixa uma coluna de hálito.
O ronceiro
Cavalo cheio de ferrugem,
Cascos, dolorosos guizos -
Toda a manhã a
Manhã tem escurecido,
Uma flor esquecida.
Meus ossos sustêm a quietude, distantes
Campos abrandam o meu coração.
Ameaçam
Levar-me através de um céu
Sem estrelas e sem pai, uma água obscura.
(Tradução: J.T.Parreira)
The hills step off into whiteness.
People or stars
Regard me sadly, I disappoint them.
The train leaves a line of breath.
O slow
Horse the colour of rust,
Hooves, dolorous bells -
All morning the
Morning has been blackening,
A flower left out.
My bones hold a stilness, the far
Fields melt my heart.
They threaten
To let me through to a heaven
Starless and fatherless, a dark water.
Ovelhas no Nevoeiro
As colinas descem para a brancura.
Estrelas ou pessoas
Com tristeza olham-me, desiludo-as.
O comboio deixa uma coluna de hálito.
O ronceiro
Cavalo cheio de ferrugem,
Cascos, dolorosos guizos -
Toda a manhã a
Manhã tem escurecido,
Uma flor esquecida.
Meus ossos sustêm a quietude, distantes
Campos abrandam o meu coração.
Ameaçam
Levar-me através de um céu
Sem estrelas e sem pai, uma água obscura.
(Tradução: J.T.Parreira)
terça-feira, março 21, 2006
Dia Mundial da Poesia
Edição de 1973
Aos Amigos
Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.
- Temos um talento doloroso e obscuro.
Construímos um lugar de silêncio.
De paixão.
(Herberto Helder)
segunda-feira, março 20, 2006
Duetos
Restaurant, by Harold Pinter
No, you'are wrong.
Everyone is as beautiful
as they can possibly be
Particulary at lunch
in a laughing restaurant
Everyone is as beautiful
as they can possibly be
And they are moved
by their own beauty
And they shed tears for it
in back of the taxi home.
Restaurante
Não, você está errado.
Todos são tão belos
quanto eles podem ser
Particularmente no almoço
em um restaurante hilário
Todos são tão belos
quanto eles podem ser
E se emocionam
com a sua própria beleza
E vertem lágrimas por ela
no banco do táxi para casa.
(Tradução: Virna Teixeira)
Restaurante
Não, você está errado.
Todos são tão belos
quanto é possível ser
Particularmente ao almoço
no restaurante que ri
Todos são tão belos
quanto é possível ser
E movidos
pela sua própria beleza
Derramam lágrimas por isso
no fundo do táxi para casa.
(Tradução: J.T.Parreira)
In www.papelderascunho.net
No, you'are wrong.
Everyone is as beautiful
as they can possibly be
Particulary at lunch
in a laughing restaurant
Everyone is as beautiful
as they can possibly be
And they are moved
by their own beauty
And they shed tears for it
in back of the taxi home.
Restaurante
Não, você está errado.
Todos são tão belos
quanto eles podem ser
Particularmente no almoço
em um restaurante hilário
Todos são tão belos
quanto eles podem ser
E se emocionam
com a sua própria beleza
E vertem lágrimas por ela
no banco do táxi para casa.
(Tradução: Virna Teixeira)
Restaurante
Não, você está errado.
Todos são tão belos
quanto é possível ser
Particularmente ao almoço
no restaurante que ri
Todos são tão belos
quanto é possível ser
E movidos
pela sua própria beleza
Derramam lágrimas por isso
no fundo do táxi para casa.
(Tradução: J.T.Parreira)
In www.papelderascunho.net
sábado, março 18, 2006
Insomnio, de Dámaso Alonso
Madrid é uma cidade de mais de um milhão
de cadáveres (de acordo com recentes estatísticas).
Às vezes agito-me na noite e me
incorporo neste nicho no qual faz
45 anos que apodreço,
e passo longas horas a ouvir gemer o furacão,
ou ladrar os cães, ou fluir maciamente a luz lunar.
E passo longas horas gemendo como o furacão,
ladrando como um cachorro furioso,
fluindo como o leite dos úberes aquecidos
de uma grande vaca amarela.
E passo longas horas perguntando a Deus,
perguntando-Lhe porque apodrece
lentamente a minha alma,
por que apodrecem mais de um milhão de
corpos nesta cidade de Madrid,
por que mil milhões de corpos apodrecem
lentamente no mundo.
Diz-me, que jardim queres adubar
com a nossa podridão?
Receias que murchem teus roseirais do dia,
as tristes açucenas letais das tuas noites?
(Tradução: J.T.Parreira)
Este poema, em castelhano, pode ser ouvido em www.poesia-inter.net/reci0073.htm,
na voz do próprio poeta Dámaso Alonso.
de cadáveres (de acordo com recentes estatísticas).
Às vezes agito-me na noite e me
incorporo neste nicho no qual faz
45 anos que apodreço,
e passo longas horas a ouvir gemer o furacão,
ou ladrar os cães, ou fluir maciamente a luz lunar.
E passo longas horas gemendo como o furacão,
ladrando como um cachorro furioso,
fluindo como o leite dos úberes aquecidos
de uma grande vaca amarela.
E passo longas horas perguntando a Deus,
perguntando-Lhe porque apodrece
lentamente a minha alma,
por que apodrecem mais de um milhão de
corpos nesta cidade de Madrid,
por que mil milhões de corpos apodrecem
lentamente no mundo.
Diz-me, que jardim queres adubar
com a nossa podridão?
Receias que murchem teus roseirais do dia,
as tristes açucenas letais das tuas noites?
(Tradução: J.T.Parreira)
Este poema, em castelhano, pode ser ouvido em www.poesia-inter.net/reci0073.htm,
na voz do próprio poeta Dámaso Alonso.
sexta-feira, março 17, 2006
quinta-feira, março 16, 2006
Insónia
É cedo ainda para os vadios
deixarem o veludo da noite, o bar
para fechar a última despesa
É ainda cedo para o salto mortal
fora do sono, da insónia
de olhos sensíveis aos ruídos
É muito cedo para os pedintes
encostarem sombras às paredes
e cegueira nos corredores do Metro
Silhuetas de madames não passeiam
ainda os seus lulus, como Balla quis
a deslizarem o silêncio na crosta terrestre
Aqui os que acordam antes do sol
são aqueles que não têm alvo para o corpo
e com olhos na tristeza passam.
deixarem o veludo da noite, o bar
para fechar a última despesa
É ainda cedo para o salto mortal
fora do sono, da insónia
de olhos sensíveis aos ruídos
É muito cedo para os pedintes
encostarem sombras às paredes
e cegueira nos corredores do Metro
Silhuetas de madames não passeiam
ainda os seus lulus, como Balla quis
a deslizarem o silêncio na crosta terrestre
Aqui os que acordam antes do sol
são aqueles que não têm alvo para o corpo
e com olhos na tristeza passam.
quarta-feira, março 15, 2006
Poemas
Noite
Tantas estrelas!
Tantos micróbios nesta atmosfera...
1963
(Andrei Voznessenski)
America
When can I go into the supermarket and buy what I
need with my good looks?
(Allen Ginsberg)
Tantas estrelas!
Tantos micróbios nesta atmosfera...
1963
(Andrei Voznessenski)
America
When can I go into the supermarket and buy what I
need with my good looks?
(Allen Ginsberg)
terça-feira, março 14, 2006
Dia Internacional da Poesia
Uma poeta italiana
A poeta italiana Alessandra Sciacca Banti ( Pisa, 1972-), que me remeteu o seu livro Sintesi (que se divide entre a poesia de amor e a poética sobre a filosofia e filologia), em preparo.
I Baci
Amami,
E baciami ancora,
Cento e mille volte.
Che i nostri baci siano
Come i baci di Catullo e la sua Lesbia,
Che la notte
Sia il rifugio,
La culla
Del nostro amore.
(Alexandra)
I Baci
Amami,
E baciami ancora,
Cento e mille volte.
Che i nostri baci siano
Come i baci di Catullo e la sua Lesbia,
Che la notte
Sia il rifugio,
La culla
Del nostro amore.
(Alexandra)
quarta-feira, março 08, 2006
A Arca de Pessoa
terça-feira, março 07, 2006
Poema de Günther Grass
Normandia
O búnquer junto à praia
não pode livrar-se do betão.
Por vezes chega um general meio-morto
e acaricia as troneiras.
Ou habitam-no turistas
por cinco agitados minutos -
Vento, areia, papéis e urina:
é a invasão que continua.
(Tradução: J.T.Parreira)
Normandie
Die Bunker am Strand
können ihren Beton nicht loswerden.
Manchmal kommt ein halbtoter General
und streichelt Schiesscharten.
Oder es wohnen Touristen
für fünt verquälte Minuten-
Wind, Sand, Papier und Urin:
Immer ist Invasion.
(Günther Grass)
O búnquer junto à praia
não pode livrar-se do betão.
Por vezes chega um general meio-morto
e acaricia as troneiras.
Ou habitam-no turistas
por cinco agitados minutos -
Vento, areia, papéis e urina:
é a invasão que continua.
(Tradução: J.T.Parreira)
Normandie
Die Bunker am Strand
können ihren Beton nicht loswerden.
Manchmal kommt ein halbtoter General
und streichelt Schiesscharten.
Oder es wohnen Touristen
für fünt verquälte Minuten-
Wind, Sand, Papier und Urin:
Immer ist Invasion.
(Günther Grass)
segunda-feira, março 06, 2006
Quixotesco
sexta-feira, março 03, 2006
quarta-feira, março 01, 2006
Poema tirado do baú
Ai, Margarida,
Se eu te désse a minha vida,
Que farias tu com ella?
-Tirava os brincos do prego,
Casava c'um homem cego
E ia morar para a Estrella.
Mas, Margarida,
Se eu te désse a minha vida,
Que diria a tua mãe?
-(Ella conhece-me a fundo.)
Que ha muito parvo no mundo,
E que eras parvo tambem.
E, Margarida,
Se eu te désse a minha vida
No sentido de morrer?
-Eu iria ao teu enterro,
Mas achava que era um erro
Querer amar sem viver.
Mas, Margarida,
Se este dar-te a minha vida
Não fôsse senão poesia?
-Então, filho, nada feito.
Fica tudo sem effeito.
Nesta casa não se fia.
(Álvaro de Campos)
Se eu te désse a minha vida,
Que farias tu com ella?
-Tirava os brincos do prego,
Casava c'um homem cego
E ia morar para a Estrella.
Mas, Margarida,
Se eu te désse a minha vida,
Que diria a tua mãe?
-(Ella conhece-me a fundo.)
Que ha muito parvo no mundo,
E que eras parvo tambem.
E, Margarida,
Se eu te désse a minha vida
No sentido de morrer?
-Eu iria ao teu enterro,
Mas achava que era um erro
Querer amar sem viver.
Mas, Margarida,
Se este dar-te a minha vida
Não fôsse senão poesia?
-Então, filho, nada feito.
Fica tudo sem effeito.
Nesta casa não se fia.
(Álvaro de Campos)
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