domingo, fevereiro 28, 2010

O pássaro descasca o silêncio


«Para dar imagens ao silêncio
pede ao céu
um bater de asas
tirado da essência
de um pássaro»
Rui Miguel Duarte


A essência de um pássaro
está no voo
é o silêncio que se move
e voa para todos os lados
da esfera
no silêncio onde mergulha
e depois emerge
e respira
e faz equílibrio nos fios do sol

Quando o céu se estende
nas aves
um pássaro apenas
quando voa
descasca o silêncio.





sexta-feira, fevereiro 26, 2010

Para dar imagens ao silêncio


Poema inédito de Rui Miguel Duarte, glosando a frase «dar imagens ao silêncio» de JTP no Facebook
Para dar imagens ao silêncio
pede ao céu
um bater de asas
tirado da essência
de um pássaro

pede a uma árvore
que te ceda
um sopro de vento
que silve os arcos
dos teus cabelos

pede à praia
que te grave
nas dunas
o estrugido
da espuma
que lhes bate nos joelhos

pede à noite
que não transtorne
a memória
de um só segundo
do corrupio
no coração dos
espaços vagos de gentes

Para dar imagens ao silêncio
pede à criança
que após o temporal
quando nada mais resta
senão a pátina
à superfície do cristal
te pinte o arco-íris

24/02/10

quinta-feira, fevereiro 25, 2010

Um par de botas

Há botas velhas tão limpas
como rosas

De pétalas dobradas, tristes
canos que adornaram
tíbias orgulhosas

Botas à volta das quais
o vento e a poeira
rodopiam, rosas
que esperam a calma
das mãos que as depositem
num canto da sala

Há botas tão interessantes
como rosas
como o veludo das rosas
para nos adoçar os dedos

Botas velhas para o secreto
movimento dos pés.

25/2/2010

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Concerto Vozes pelo Haiti (2)

O Poeta lê «Os Limites», no Concerto do dia 14 de Fevereiro em Lisboa, ao piano o Maestro Pedro Duarte.
« OS LIMITES
hay un espejo que me ha visto por última vez
Jorge Luis Borges
Há um espelho que não sabe
onde estará teu rosto
há a lâmpada com que feriste
pela última vez teus olhos
há a música que não tardará
a encontrar outros ouvidos
há uma última noite em que os sonhos
ficarão nas galerias, solitários
Pela última vez
há um pássaro que parte
o silêncio que há no ar
Há um dia que se fecha na morte. »
1985

segunda-feira, fevereiro 15, 2010

Vozes pelo Haiti

Concerto Vozes pelo Haiti, música e poesia de inspiração religiosa, evangélica. A notícia aqui.
Na foto, o maestro Pedro Duarte, os poetas Brissos Lino e J.T.P, ontem em Lisboa.

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

O Arqueiro

O arco retesa-se para trás
retém o impulso da flecha

Um silêncio aguarda
da haste florida
o silvo agudo

Nas mãos do arqueiro
o dom
de dar ao vento a frecha
que o perfure

Das mãos do arqueiro
o equilíbrio
entre o presente e o futuro.

8-2-2010

poema inicialmente editado como inédito em A Ovelha Perdida

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

Quando se parte

Poema inédito do poeta Brissos Lino

Se te meteres a caminho
com o bilhete de volta na algibeira
então nunca terás partido.
(Rui Miguel Duarte, Viagem de ida)


Quando se parte, olha-se em frente
pergunta-se ao mar o sal
que as ondas lambem
pede-se ao céu
um vislumbre do destino

quando se parte, o coração é um mastro
levantado como o sol
com velas brancas felizes

quando se parte, o rosto arredonda-se
e a brisa marítima promete
um mar amigo

quando se parte, a música das águas
acalma o espírito
afasta as nuvens do medo

quando se parte, enche-se o peito todo
de ar e afirmação
à saída da barra

quando se parte, esticam-se mãos
de longos dedos
ao esperançoso fio do horizonte

quando se parte, é perigoso
olhar para trás.

8/2/2010

(Brissos Lino)

domingo, fevereiro 07, 2010

Espelho Partido

O espelho partiu/a moldura ficou
Ana Hatherly


O espelho divide-nos
Bocados
nossos pelo chão
enquanto os dedos
sangram pela fúria
do vidro

Um espelho partido
ramos
do mesmo inteiro rosto
disperso na prata

A cerejeira
da moldura está intacta.

12/1/2010

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

Entre passos


Há um compasso no passo
Que aguarda outro passo
A sequência imediata
No equilíbrio latente
Quer do corpo
Quer da mente.
Mas entre o passo dado
E o passo a dar
Há um compasso
E uma espera
Um destino a venerar.

5/2/2010

Poema inédito de Florbela Ribeiro

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

amtrak haiku


proud trenton
cheeseburger
trees, river shores, trees
by asheresque
in Action Poetry / Literary Kicks

A orgulhosa Trenton
cheeseburger
árvores, nas margens do Delaware, árvores

(Trad. J.T.Parreira)