Poema inédito do poeta Brissos Lino
Se te meteres a caminho
com o bilhete de volta na algibeira
então nunca terás partido.
(Rui Miguel Duarte, Viagem de ida)
Quando se parte, olha-se em frente
pergunta-se ao mar o sal
que as ondas lambem
pede-se ao céu
um vislumbre do destino
quando se parte, o coração é um mastro
levantado como o sol
com velas brancas felizes
quando se parte, o rosto arredonda-se
e a brisa marítima promete
um mar amigo
quando se parte, a música das águas
acalma o espírito
afasta as nuvens do medo
quando se parte, enche-se o peito todo
de ar e afirmação
à saída da barra
quando se parte, esticam-se mãos
de longos dedos
ao esperançoso fio do horizonte
quando se parte, é perigoso
olhar para trás.
8/2/2010
(Brissos Lino)
6 comentários:
Estou encantado. E muito grato por me citares. Os teus versos, a tua efabulação, criam a tensão da partida, plena de pedidos aos elementos atmosféricos e aos da navegação, da osmose e mistura do coração, da alma e do corpo com eles e com a emoção associada à partida. Por exemplo, o coração é um mastro, o rosto arrendado sugere a forma ganha pelas velas ao ser tocada pela brisa. O próprio peito cheio de ar, solidário com o rosto, representa metonimicamente tanto o todo do ser, cheio de coragem, como também não deixa de se associar às velas.
A conclusão vai em sentido diverso do do mote: este aponta para o princípio ético, filosófico, espiritual da motivação e propósito da viagem. Em "Quando se parte" aponta o percurso da mesma: a segurança, a felicidade, a esperança está em seguir em frente. Todo o poema vai nessa toada.
Oops… Agora reparei que o poema é do Brissos.
Caro João,
Obrigado pela publicação do meu poema. Não sei se é bom ou mau a nossa Poesia ser confundida. Ainda mais por uma pessoa como o noso amigo comum Rui Duarte.
Ora aqui estaria um bom tema de reflexão.
Abraço,
Brissos
Caro Brissos, também achei interessante e tipo «case study» o Rui ter lido o poema e comentado como se fosse meu, depois é que se apercebeu da autoria. Logo, conclui-se que no espírito dele a dicção poética de JTP e a de BL se cruzam. A conclusão outra é que se infleunciamos um ao outro, isso é bom.
(A autoria está antes da imagem a cheio, vou colocá-la tb. em baixo como costumo fazer com os poemas de outros autores)
Na verdade, este poema não me pareceu de todo extra-JTP. Sendo do Brissos, é mais elaborado, trabalhado, cerebral, arrojado no "modus dicendi", do que aquilo que me habituei a ler na dicção do Brissos. Talvez precisamente com marcas e influências do JT.
Se me tornei como exegeta num "case study" espero ganhar alguma percentagem com esse estudo rsrs.
Enviar um comentário