A Poesia é o assunto do Poema - Wallace Stevens . Este Blog não respeita o Acordo Ortográfico.
domingo, novembro 30, 2008
sábado, novembro 29, 2008
Gasolina, inéditos sobre Hopper (8)
MORNING SUN
Se um dia partires
de Ítaca, que seja por romperes
o manto que fizeste nos teus olhos
Sobre os telhados o ar
será mais leve
Nem Lestrigões nem Ciclopes
estarão à espreita nos degraus
do sonho
Se um dia partires de Ítaca
que não seja pelo desânimo,
que não seja
mais que pela riqueza do caminho.
28-11-2008
quinta-feira, novembro 27, 2008
Mulheres da Índia
Na Índia as mulheres escondem sempre
a esperança e a boca
por detrás do sari colorido
ornamentam as horas
com pechisbeques
em forma de pulseira
e os olhos negros, sofredores
estranham qualquer outro olhar
até mesmo o beijo solar
na testa o pequeno tilak
na alma o ferrete
da sua condição.
(Brissos Lino)
in A Ovelha Perdida
a esperança e a boca
por detrás do sari colorido
ornamentam as horas
com pechisbeques
em forma de pulseira
e os olhos negros, sofredores
estranham qualquer outro olhar
até mesmo o beijo solar
na testa o pequeno tilak
na alma o ferrete
da sua condição.
(Brissos Lino)
in A Ovelha Perdida
terça-feira, novembro 25, 2008
O que não se sabe
O Espelho, Magritte
El viento no lo sabe
Dámaso Alonso
A onda não o sabe.
O coração do mar
que não aconchega o amor
pelas terras doloridas,
e o vento,
que arma ciladas à vela do navio
nas noites sem ternura.
Nada sabem. O raio
que força os arcanos
da floresta, não o sabe
como beijo de um céu em fogo.
E o trovão, que ensurdece
por completo o silêncio,
não o sabe também.
E a roda do sol
que ofusca o céu vazio,
e o deserto que modela a noite
no dorso das suas dunas,
não o sabem. Nem as chuvas
que tinem nas cordas invisíveis
das vidraças.
1-11-2008
sábado, novembro 22, 2008
Haiku de Jack Kerouac
DOIS HAIKU DE KEROUAC
Haiku (Birds singing...)
Birds singing
in the dark
—Rainy dawn.
Pássaros cantando
no escuro
–Chuvoso despontar.
Haiku (The low yellow...)
The low yellow
moon above the
Quiet lamplit house.
A palidez
da lua sobre a
Quietude da casa iluminada.
(Trad.J.T.Parreira)
E UM ESPÚRIO
Sob a palidez
da luz da lua
a iluminação pública.
22/11/2008
terça-feira, novembro 18, 2008
Anjos sobre os ombros
Vestido como en el mundo,
ya no se me ven las alas.
Rafael Alberti
Anjos sobre os seus ombros
uma pluma de cisne a vogar
no sol-posto sobre a água
No cabide dos seus ossos
como o peso das nuvens
ou sandálias de algodão
Leva anjos sobre os seus ombros
não quer o desequilíbrio de nenhum
quando passa, sobre o fio do mundo.
17/11/2008
ya no se me ven las alas.
Rafael Alberti
Anjos sobre os seus ombros
uma pluma de cisne a vogar
no sol-posto sobre a água
No cabide dos seus ossos
como o peso das nuvens
ou sandálias de algodão
Leva anjos sobre os seus ombros
não quer o desequilíbrio de nenhum
quando passa, sobre o fio do mundo.
17/11/2008
segunda-feira, novembro 17, 2008
Passagens de nível na imaginação
sexta-feira, novembro 14, 2008
Há tardes
Despe-se a tarde da chuva intensa caída toda a manhã e eu sento-me num improvisado banco comprido, debaixo dum improvisado hangar, postado ao lado da rua, enquanto me lavam o carro. Por trás de mim um ritmo africano estridente ribomba-me aos ouvidos enquanto eu penetro na minha leitura. Faz algum tempo que comecei a ler este livro mas tenho dificuldade em chegar ao fim... O empregado da lavagem de carros quase se deita dentro do meu, talvez em busca da moeda perdida. Aparece depois com um velho aspirador e inicia a aspiração lenta e calmamente. Na rua passa uma mulher ajoujada pelo pesa da bacia repleta de garrafas cheias de sumo encarnado, o bissap. Por trás de uma velha mesa onde duas camadas de velhos papéis, alinhados simetricamente descansam, um rapaz vai marcando o ritmo da estridente música africana, com os nós dos dedos. Na outra extremidade da lavage de voitures um homem balança-se entre o telemóvel e o seu Mercedes que outro funcionário começa a lavar. Veste uma camisa verde clara muito bem cuidada sobre a qual se encavalitam uns enormes suspensórios que suportam as calças verdes. Tem um ar feliz do tipo daquele que tem as pessoas que estão bem na vida. Retiro o olhar da rua e do homem vestido de verde, impecavelmente vestido, tento abstrair-me da música ensurdecedora, e volto a deslizar os olhos para a minha leitura. Volto ao conde Bezukhov que parece estar no bom caminho para acreditar na existência de Deus e abandonar o impiedoso caminho do ateísmo.
(Florentino Lavrador, Abidjan, Côte d'Ivoire)
(Florentino Lavrador, Abidjan, Côte d'Ivoire)
quinta-feira, novembro 13, 2008
O original, a tradução e o make it new
UM RIO CHAMADO TRISTEZA
Na margem sentado, molho os pés
na tristeza
as águas turvam
o meu reflexo
-eu impresso
na seda das águas?,reuno
com o copo
das mãos
a espuma
do meu rosto.
__________________________________________
A river called sadness
by JTParreira
2008 November 12
Remember? We sat on a border, wetting
the feet in sadness
The troubled waters
shaking our reflexes
We are printed
in water's silk inside? Let's reunite
on the hands of glass
the foam
of our face.
in Literary Kicks
________________________________________
UM RIO A QUE CHAMAM TRISTEZA
Lembras-te? Estavamos sentados na margem, molhando
os pés na tristeza
as águas tumultuosas
agitavam o nosso reflexo
Nós impressos
dentro da seda das águas? Reunamos
no copo das mãos
a espuma
do nosso rosto.
12/11/2008
Na margem sentado, molho os pés
na tristeza
as águas turvam
o meu reflexo
-eu impresso
na seda das águas?,reuno
com o copo
das mãos
a espuma
do meu rosto.
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A river called sadness
by JTParreira
2008 November 12
Remember? We sat on a border, wetting
the feet in sadness
The troubled waters
shaking our reflexes
We are printed
in water's silk inside? Let's reunite
on the hands of glass
the foam
of our face.
in Literary Kicks
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UM RIO A QUE CHAMAM TRISTEZA
Lembras-te? Estavamos sentados na margem, molhando
os pés na tristeza
as águas tumultuosas
agitavam o nosso reflexo
Nós impressos
dentro da seda das águas? Reunamos
no copo das mãos
a espuma
do nosso rosto.
12/11/2008
terça-feira, novembro 11, 2008
Na mesa do Shabbath
Há aconchego na mesa
do Shabbath
entre os pães asmos e a luz do Menorah
uma devoção suave habita
entre o vinho da comunhão
o azeite kosher
e as orações da família
dos adoradores
na mesa do Shabbath
cultiva-se o favor do Senhor
Shamah, Israel.
(Brissos Lino)
11/08
Poema inédito que o Poeta, meu velho amigo, fez chegar ao Blog. Reflecte uma relação intimamente religiosa, mas também quer recordar um tempo da história contemporânea que não deve ser esquecido, sobretudo na Europa.
sexta-feira, novembro 07, 2008
Um poema de Barack Obama
Em 1981, Barack Obama publicou dois poemas na revista literária do Occidental College, Feast; a revista The New Yorker recuperou-os e veio a publicá-los em 2007. Com a devida vénia, publicamos um.
Underground
Under water grottos, caverns
Filled with apes
That eat figs.
Stepping on the figs
That the apes
Eat, they crunch.
The apes howl, bare
Their fangs, dance,
Tumble in the
Rushing water,
Musty, wet pelts
Glistening in the blue.
(Barack Obama, Presidente eleito dos E.U.A)
quinta-feira, novembro 06, 2008
Na ausência de espelhos
Havia já muito tempo que ninguém
em Auschwitz tinha um espelho
não reconheceriam a sageza
no rosto, nem as covas
onde lançaram os olhos
nem os lábios, como uma linha
de medos
ninguém tinha pensado nisso antes
nos espelhos.
Sem os espelhos qualquer um
era igual ao outro, via-se
no outro, os espelhos
poderiam ser usados contra o próprio.
Em Auschwitz, por falta de espelhos
ninguém continuou a ser pessoa.
4/11/2008
quarta-feira, novembro 05, 2008
A América muda de pele.
"Barack Obama nosso próximo Presidente"- afirma o Chicago Tribune.
Em 1961, a América mudou de rosto, com John Kennedy; hoje muda de pele com Obama, está a caminho de se tornar Bela, mas ainda falta muito para, como desejava Allen Ginsberg, poder entrar no supermercado e comprar tudo o que precisa com a sua beleza.
segunda-feira, novembro 03, 2008
Dámaso Alonso, a Indagação da Poesia
A indagação foi a arma lírica que Dámaso Alonso (Madrid, 1898-1990) incorporou na sua poesia, comprometido com a realidade espanhola, mas também com Deus, no sentido de dizer das suas preocupações filosóficas sobre a natureza e os atributos do Criador.
Poeta de inquirições metafísicas, o autor de Hijos de la Ira soube transpor as mesmas para a linguagem poética, utilizando significantes, díriamos formas comuns tanto urbanas quanto rurais, por exemplo:
Madri; grandes rosales; tristes azucenas; horto; adubo; úberes quentes; vaca; los rebãnos; manso río; el otõnal paisage; polvorienta huella del camino; ou estes versos de magistral ruralidade: y en el reloj del muro el Sol ponía/ la irreparable hora del descanso.
Nem todos os seus poemas, na totalidade da sua obra, indagam. No que o próprio poeta madrileno qualifica de poemas puros existem observações, mas não perguntas.
Oh Dios,
No me atormentes más.
Dime qué significan
Estos espantos que me rodean.
Não aquelas que ao interpelar vão ao fundo da matéria poética e revolvem no magma o cerne da sustentação da compreensibilidade do universo, como os poemas das livros Hijos de la Ira e Oscura noticia, nos quais se coloca a problemática religiosa do querer crer.
Embora em 1921 começasse um poema sob o exordo de Juan Ramón Jimenéz, Cómo era, Dios mío, como era?, que parece ser acerca da memória, qualquer coisa (uma porta?) sem forma e que não cabe numa forma. Esses poemas do princípio estavam distantes das questões metafísicas, também só na aparência pareciam longínquos da existência quotidiana. Ainda eram polidos e rigorosos, sem angústias, e alguns deles pura arte poética, sobre a matéria prima de que se compõe o poema: as palavras. Visões da vida idealizada em conflito com o que era já uma propensão para o realismo.
As suas perguntas resultaram do choque da sua concepção religiosa da vida, por um lado, e, por outro, de um conceito existêncial avant la lettre, sem nada que ver com o conhecido existencialismo da leitura de Jean-Paul Sartre.
Insomnio
(...)
Y paso largas horas preguntándole a Dios, preguntándole
por qué se pudre lentamente mi alma.
A descrição inicial de Madrid como uma cidade de mais de um milhão de cadáveres - Madri es una ciudad de más de un millón de cadáveres( según las últimas estadísticas) - no poema datado de 1940, quando uma estatística oficial apontava esse número como população madrilena , liga o poeta à cidade no seu exílio interior e fá-lo revolver-se na noite e incorporar-se nesse nicho em que havia 45 anos apodrecia, não dá apenas um local para o homem público da Espanha da guerra civil sofrer as suas perplexidades e seus medos. Vai introduzi-lo como protagonista - e nunca a palavra teve tanto significado a partir da agonia- num espaço mais vasto, o Universo, numa existência em que faz sentido a pergunta angustiada perante a vida.
De resto, Dámaso Alonso pertenceu áquele pequeno grupo de poetas, da Geração de 27 claro, mas, sobretudo, dos poetas a que chamaram do «desarraigo existencial», os desenraizados existencialmente ou do exílio interior a partir da década de 30 e que chegavam desde Unamuno, um dos Mestres modernos da poesia espanhola do Século XX.
Em concreto, o poema Insomnio é um poema que relança imagens e metáforas relacionadas com a morte e a procura de sentido para a vida humana, no meio da catástrofe que se abatia sobre a Europa. E apesar de outras leituras está na linha poética do existencialismo, a alegada ausência de Deus e a solidão do homem na cidade destruída, que é sobremodo toda a linha de conteúdo do livro Hijos de la Ira.
Todavia a despeito da sua dureza, este poema, perfeitamente datado e localizado historicamente, não erradica do ponto de vista da idealidade a procura de visões esperançadas de Deus.
Dime, qué huerto quieres abonar con nuestra podredumbre?
Temes que se te sequen los grandes rosales del día,
las tristes azucenas letales de tus noches?
Esta indagação carrega em si o anseio de compreender, ainda que sobrenade em pessimismo e cepticismo alonsinos. Por seu turno porta também na sua linguagem metafórica e altamente poética (da poesia pura), dentro dos efeitos da linguagem quotidiana, um rasgo de compreensão pelo que o poeta supõe ser de igual maneira a solidão divina.
Dámaso Alonso, contrariamente a outros poetas espanhóis da sua célebre geração ( a de 1927), foi um poeta afinal solidário com Deus, sem que fosse estritamente metafísico. Foi mesmo num ou noutro poema, bíblico. Desde logo pela epígrafe inicial do livro em latim, as palavras do apóstolo Paulo: E éramos por natureza filhos da ira, como os outros também. Ef, II,3.
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