Despe-se a tarde da chuva intensa caída toda a manhã e eu sento-me num improvisado banco comprido, debaixo dum improvisado hangar, postado ao lado da rua, enquanto me lavam o carro. Por trás de mim um ritmo africano estridente ribomba-me aos ouvidos enquanto eu penetro na minha leitura. Faz algum tempo que comecei a ler este livro mas tenho dificuldade em chegar ao fim... O empregado da lavagem de carros quase se deita dentro do meu, talvez em busca da moeda perdida. Aparece depois com um velho aspirador e inicia a aspiração lenta e calmamente. Na rua passa uma mulher ajoujada pelo pesa da bacia repleta de garrafas cheias de sumo encarnado, o bissap. Por trás de uma velha mesa onde duas camadas de velhos papéis, alinhados simetricamente descansam, um rapaz vai marcando o ritmo da estridente música africana, com os nós dos dedos. Na outra extremidade da lavage de voitures um homem balança-se entre o telemóvel e o seu Mercedes que outro funcionário começa a lavar. Veste uma camisa verde clara muito bem cuidada sobre a qual se encavalitam uns enormes suspensórios que suportam as calças verdes. Tem um ar feliz do tipo daquele que tem as pessoas que estão bem na vida. Retiro o olhar da rua e do homem vestido de verde, impecavelmente vestido, tento abstrair-me da música ensurdecedora, e volto a deslizar os olhos para a minha leitura. Volto ao conde Bezukhov que parece estar no bom caminho para acreditar na existência de Deus e abandonar o impiedoso caminho do ateísmo.
(Florentino Lavrador, Abidjan, Côte d'Ivoire)
2 comentários:
As coincidências existem realmente. Acabei de publicar no meu blog um excelente poema que dá pelo nome de "Lusitânia".
Um abraço e muitas bênçãos de Deus!
Das descobertas.
Enviar um comentário