sábado, janeiro 26, 2008

Dobrada à moda do Porto

Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.

Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.

Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo...

(Álvaro de Campos)

2 comentários:

hfm disse...

Só ele para acabar este poema como acabou! genial! e desemportantizado!

jorgeferrorosa disse...

Interessante o que por aqui se escreve, ispirou-me e escrevi o que se segue:

ENTRE O ESPAÇO E O PALADAR

Um dia em algum sitio encontrei,
Talvez não tenha encontrado nada...
Não sei! No tempo ou para o tempo,
Sirvo sem ser servido
Dedico-me sem desejar dedicação,
Percorro espaços, este escolhido
Numa mensagem de refeição.

Comigo ou foram de mim...
Com a razão que se pode ter,
Como com o olhar num jardim
De tantas cores poder ser
A conta que a conta não tem
Pago a conta, a que me vem...
E neste passeio de alguém
Ainda também passeio
Num passeio sem entender.

Comigo ou contigo num restaurante
Num olhar gastronómico, timbrante
Absorvo da mesa o bom banquete...
Tomo-me no espaço verdejante,
Impaciente, sou caminhante
Vou embora, guardo o teu verbete.

Jorge Ferro Rosa