O meu coração sem trânsito
num tempo
de amores platónicos
no ano 1961.
Os olhos fugiam
para a janela aberta da casa
ali ao lado
o branco e o preto
era a hora do mundo
no televisor.
Nem ouvia os ruídos da rua
começava a ter
Angola
as obscuras mortes
e a juventude pendurava
o seu sorriso
na sala oval da América.
Nem via os rostos a passar
dos velhos vizinhos
- que diziam
sinhe!, Cindinha ,
que esgotaram
já o prazo concedido
às linhas da memória.
Hoje é a mesma rua uma água
turva e larga, por onde se vai
para casas vazias.
17-10-2006
1 comentário:
Depurado, belo e cheio de belíssimas imagens!
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