sábado, maio 28, 2016

A ORELHA





“Ponho-me no lugar 
Do silêncio da orelha de Van Gogh”

J.T. Parreira




o que uma orelha contém
é retirado quando uma lâmina
a corta: o trinado das aves, o murmúrio
de amor entre os ramos e o vento
o bater do mar contra os pés
o cicio do universo por dentro
certo crepúsculo também uma espada
excluiu a orelha de Malco
foi o poente sobre o que importava
ouvir, não cortes
disse Jesus, que se cortas uma orelha
te cortarão o tronco e a cabeça
abre-a bem, a orelha,
ela resgatar-te-á do nada
para o silêncio
de um mundo de palavras que ainda
não foram ditas



Rui Miguel Duarte
28-05-2016

domingo, maio 22, 2016

CERTO HOMEM TINHA DOIS FILHOS - POESIA








http://poesiaevanglica.blogspot.pt/2016/05/certo-homem-tinha-dois-filhos-novo-e.html


     Das diversas parábolas relatadas por Jesus, talvez nenhuma outra tenha tido tanta repercussão, e consequentemente sido alvo de mais representações artísticas quanto a Parábola do Filho Pródigo (Lc 15:11-32). E, em apoio à sua singularidade, note-se que, ao contrário de outras parábolas, esta aparece apenas no livro de Lucas. Sua mensagem, por ser perfeitamente evangélica, é de simples, universal compreensão; seu impacto é duradouro. Talvez porque diante de um Deus santo de quem nos afastamos e fomos afastados pelo pecado, sejamos todos pródigos a priori (e tantas e tantas vezes, a rematar nossa rebelião, a posteriori).
       É essa figura arquetípica do pródigo que é o Homem, inserida nesta parábola também arquetípica sobre o incomensurável e incondicional amor do Deus-Pai, que JTP elege para objeto de sua reflexão poética.
       Este pequeno e-book colige textos escritos em períodos diversos, mas que em comum trazem a marca da economia e extrema expressividade, tão características da poesia do autor.

Sammis Reachers 

terça-feira, maio 10, 2016

FILHO (CHILD) - Poema de Sylvia Plath



Sylvia Plath  (Estados Unidos, 1932-1963)


O teu olho claro é uma coisa absolutamente bela.
Eu quero enche-lo com patos e cores,
Um zoo de novidades

Em cujos nomes reflectes ---
Campânulas de Abril, flores de cacto,
Pequenas

Hastes sem rugas,
Charco em que as imagens
Sejam grandes e clássicas

Não este turbulento
Retorcer  das mãos, este escuro
Tecto sem uma estrela.


© Versão de J.T.Parreira

quarta-feira, maio 04, 2016

TRAVESSIA DO MAR VERMELHO

(Arte: Ivan Aivazovsky)


O  que nos movia para a margem
do mar vermelho, o desejo com asas
tranquilas e os olhos com a doce lágrima
da liberdade,
mesmo sob a febre do deserto?  Movia-nos
uma terra que não conhecíamos, ainda
perto do egipto e com os cascos dos cavalos
egípcios a partirem o silêncio sagrado do chão  
montadas e cavaleiros confiantes
na perseguição. O que movia um povo,
cujo censo estava nas estrelas, multidão escondida
para a margem do mar? A esperança juvenil dos velhos,
o útero das mulheres jovens
para darem à luz no leite e no mel
da terra prometida?

19-04-2016
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