quarta-feira, maio 07, 2008

Território

Do lado de cá vê-se a cidade e a ponte de ferro. Estende-se o rio
de vidro que a manhã vai deformando. Os pássaros voam mais baixo.
Do lado de cá. Deste lado o céu é mais alto e mais azul.
O vento mais frio. Sabe tão bem. Ninguém conhece o gosto do lado de
cá. Deste lado a música compõe-se, descompõe-se em nudez na
mesma pauta. A cor é mais cor, o riso mais brando.
Do lado de cá estou eu. O outro lado não tem luz.
Este é o lado onde as mãos se cruzam, tranquilas.
E os olhos deixam que a noite os trespasse num acto de amor.
Este é o meu lado. Aqui o meu lugar. E deste lado renova-se o
génesis a cada manhã. Haja vida. Ela se faz. Este lado tem o meu
nome. Autografo no chão. A linha traça-se.


(Clélia Inácio Mendes)

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