A Poesia é o assunto do Poema - Wallace Stevens . Este Blog não respeita o Acordo Ortográfico.
sexta-feira, junho 24, 2011
Escrito na véspera do meu 32º aniversário
Poema de Gregory Corso
Eu amo poesia, porque me faz amar
e apresenta-me a vida
E de todos os incêndios que morrem em mim,
há um que lavra como o sol;
pode não ser toda a minha vida
minha relação com as pessoas
ou meu comportamento perante a sociedade,
mas ela diz à minha alma que tem uma sombra
Tradução de J.T.Parreira
“Write on the Eve of My 32nd Birthday”:
I love poetry because it makes me love
and presents me life
And of all the fires that die in me,
there’s one burns like the sun;
it might not make day my personal life
my association with people
or my behavior toward society,
but it does tell me my soul has a shadow
quinta-feira, junho 23, 2011
Fazer Poesia Social com lirismo
Manuel Bandeira acabou por ensinar a fazê-la, mas não correu riscos de fazer a poesia social cair no execrável panfletarismo a que muitos poetas cedem. O exemplo é o poema “O Bicho”.
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
(1947, Belo Belo)
Aqui, ainda que pareça, não é metáfora, nestes versos de matiz social, a personagem que desde o primeiro verso percorre o poema, como uma entidade que paira supra poema ( o poeta viu “ontem”, a memória a doer), é factual.
Existe até final do breve poema a desconstrução da ideia que poderia ter-se, talvez na obscuridade, talvez na névoa da manhã cedo, de que quem procura no lixo é um animal vadio, e também a desrealização da narrativa poética para uma narrativa social sobre o último limiar da pobreza.
A frase do desvendamento é uma exclamação do espanto do poeta. Manuel Bandeira, que através do seu forte lirismo de acento modernista, já havia feito incursões belíssimas no verso social, com expressões de solidariedade pelo elemento dos desvalidos, dos pobres, dos suburbanos, das pobres mulheres da rua, em versos como: “Beco...fôste rua de mulheres? / Todas são filhas de Deus!”, “Não sou mais digno de respirar o ar puro dos currais da roça”, “Pálidas meninas/Sem olhar de pai”, “Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bananas”.
Agora é absolutamente declarativo: “O bicho, meu Deus, era um homem”, sem sinal de exclamação, uma vez que esta é interior, faz parte da diegese, digamos assim, poética; é o próprio verso toda uma exclamação.
Houve exegetas da poesia bandeireana, designadamente deste poema, que concordaram em que o sofrimento aqui não é do homem que procura comida nos restos, da civilização e do consumismo, do desperdício e da riqueza, que não cheira, não examina o que encontra, ao contrário, engole “com voracidade”, dizem esses intérpretes que o sofrimento é do próprio poeta.
22/6/2011
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
(1947, Belo Belo)
Aqui, ainda que pareça, não é metáfora, nestes versos de matiz social, a personagem que desde o primeiro verso percorre o poema, como uma entidade que paira supra poema ( o poeta viu “ontem”, a memória a doer), é factual.
Existe até final do breve poema a desconstrução da ideia que poderia ter-se, talvez na obscuridade, talvez na névoa da manhã cedo, de que quem procura no lixo é um animal vadio, e também a desrealização da narrativa poética para uma narrativa social sobre o último limiar da pobreza.
A frase do desvendamento é uma exclamação do espanto do poeta. Manuel Bandeira, que através do seu forte lirismo de acento modernista, já havia feito incursões belíssimas no verso social, com expressões de solidariedade pelo elemento dos desvalidos, dos pobres, dos suburbanos, das pobres mulheres da rua, em versos como: “Beco...fôste rua de mulheres? / Todas são filhas de Deus!”, “Não sou mais digno de respirar o ar puro dos currais da roça”, “Pálidas meninas/Sem olhar de pai”, “Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bananas”.
Agora é absolutamente declarativo: “O bicho, meu Deus, era um homem”, sem sinal de exclamação, uma vez que esta é interior, faz parte da diegese, digamos assim, poética; é o próprio verso toda uma exclamação.
Houve exegetas da poesia bandeireana, designadamente deste poema, que concordaram em que o sofrimento aqui não é do homem que procura comida nos restos, da civilização e do consumismo, do desperdício e da riqueza, que não cheira, não examina o que encontra, ao contrário, engole “com voracidade”, dizem esses intérpretes que o sofrimento é do próprio poeta.
22/6/2011
quarta-feira, junho 15, 2011
O Banho (no Miño)
Poema de Francisco X.Fernández Naval
Tomávamos banho nele
mas sempre lhe tivemos medo
que havia lodo no fundo
e os pés resvalavam nos seixos
e no escuro
e tinha charcos e água a borbulhar
e entre as pontes
remoinhos do mistério.
Dizíamos cantigas populares
porém tremíamos
e regressávamos de autobus vermelho
cheirando a lama fresca, a urzes e saibro
Tínhamos medo
de nos vermos meninos
nos olhos velhos do rio,
no silencioso sangue
das poças,
evitávamos o seu abraço de estío e de sargaço,
de poço,
de remoinho escuro.
(Tradução de J.T.Parreira)
sexta-feira, junho 10, 2011
Os Olhos do Medo
“O medo teria olhos” (J.T.Parreira)
Os olhos do medo brilham na noite escura
desconstroem silêncios
afiam arestas vivas
param o sangue nas veias
raspam as paredes da alma
com garras afiadas
os olhos do medo provocam um som cavo
e raro
anunciam um futuro às arrecuas
são olhos ofídios que nos sugam
o ar
mas eu sei de pálpebras que tapam
os olhos do medo.
10/6/11
Inédito de Brissos Lino
Lasar Segall, introdutor do Expressionismo no Brasil
Os olhos do medo brilham na noite escura
desconstroem silêncios
afiam arestas vivas
param o sangue nas veias
raspam as paredes da alma
com garras afiadas
os olhos do medo provocam um som cavo
e raro
anunciam um futuro às arrecuas
são olhos ofídios que nos sugam
o ar
mas eu sei de pálpebras que tapam
os olhos do medo.
10/6/11
Inédito de Brissos Lino
Lasar Segall, introdutor do Expressionismo no Brasil
quinta-feira, junho 02, 2011
Banho de Mar
Começam por entrar as pernas
nuas hesitantes
e fincam-se como Rodes sobre o Egeu
a cintura depois
de inundados os calções
por fim o próprio umbigo
cordão que sempre nos ligou à vida
os braços nus abraçam
o que do sal começa a fervilhar na onda
como um feixe de dedos nossas mãos
vão abrindo sulcos na imaginação
até ao horizonte.
2/6/2011
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