sábado, outubro 24, 2009

Onde está a criança

Onde está a criança
que ontem se sentava
sobre a mesa, em porcelana
um galgo salta
no lento espaço da sala

Onde estão as mãos
para as pequenas coisas
as mãos ainda virgens

Onde está o espanto
que escuta no olhar
o tumulto
das futuras águas

E a claridade da sala
é hoje uma luz deixada
por um pássaro
uma seta, abrindo caminhos
na memória

Sentada ainda sobre a mesa
Oh criança serena
sossega a tua língua inquieta.

20/10/2009

2 comentários:

rui miguel duarte disse...

Vários tempos atravessam o poema, a evocação da criança. Criança estática e que salta, age. Essencialmente passa-se no tempo da memória, transita de um para outro tempo. O conflito entre o tempo da evocação e o evocado, que está no âmago de toda a contemplação de uma fotografia.

hfm disse...

Da ternura. Um abraço.