quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Segurar um manuscrito


Minhas mãos agora adormecem
sobre a beleza
do que descrevo

parece que a morte
as quer apertar
num punho

o meu toque já foi soberano
sobre o papel, já vi o afã
do aparo frágil sobre a folha

e o rápido movimento dos olhos
apanhar as palavras
antes da queda final.

21-2-2009

1 comentário:

rui miguel duarte disse...

Apesar do adormecimento das mãos e da morte que se delas se aproxima, do torpor onde antes havia elasticidade, segurar um manuscrito comunica ainda vigor redivivo.
Ocorreu-me evocar a minha experiência. Para mim, que trabalhei crítica textual e paleografia grega, mais do que trabalho, é a delicadeza da relíquia e a analepse ao acto de escrita. O objecto, não só o texto, comunicam-no mais fortemente.