Olhos no Céu
Olhai as aves do céu, voam
de qualquer lado
habitam qualquer lugar
no azul ou no verde
menos nos nossos olhos
Olhai depressa as aves no céu
cada pássaro se dissipa
na sua partida
e a velocidade dos olhos
perde-se no voo violado
Olhai nas aves o céu
espaço permeável
ao vento, à alta seta
do sonho
(J.T.Parreira)
Para que serve o pássaro?
Mas para que serve o pássaro?
Nós o contemplamos inerte.
Nós o tocamos no mágico fulgor das penas.
De que serve o pássaro se
desnaturado o possuímos?
O que era vôo e eis
que é concreção letal e cor
paralisada, íris silente, nítido,
o que era infinito e eis
que é peso e forma, verbo fixado, lúdico
O que era pássaro e é
o objeto: jogo
de uma inocência que
o contempla e revive
— criança que tateia
no pássaro um
esquema de distâncias —
mas para que serve o pássaro?
O pássaro não serve. Arrítmicas
brandas asas repousam.
(Orides Fontela, 1940-1998)
2 comentários:
ai João que saudades das tuas letras no meu canto!!!!!!!!!!!!!!!!
quase chorei, sério!
que dois poemas filósofos que nos metem a pensar em tudo menos nos pássaros, quer dizer também mas essêncialmente do que queremos que voe.
eu quero que pouses novamente no meu ninho com mais um ovinho, hihihi
Faca de dois (quatro, seis) gumes, poemas lindos que se (c)asam, canoros e esvoaçantes. Alta poesia, aérea e anti-aérea...
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