Um prefácio e sete poemas, designados por cantos, constituem o livro torrencial de Vicente Huidobro (1893-1948), poeta chileno, cuja linguagem se desloca do centro da poesia modernista, no conceito da América hispânica da primeira década do século XX, para a busca do vocábulo puramente fonético, aparentemente sem poesia, mas exibindo uma estrutura onomatopeica como significante apenas do próprio som.
Esse livro em que a torrente se deslocaliza da palavra para o puro som é Altazor, uma obra considerada épica. Ela consiste na realização, levada a cabo pelo poeta, do seu credo artístico, da criação e criação literária dentro do próprio poema, do desmontar da linguagem gongorizante e simbolista, do provocar o cataclismo en la gramática, do louvor à individualização da mulher como entidade geradora, das combinações vocabulares curiosas, as palavras circulares, como por exemplo eterfinifrete (Canto IV, pág.66) ou ainda novas formas de dizer " al horizonte en la montaña" assim: al horitaña de la montazonte (pág. 60).
As experiências que esse poeta de Santiago do Chile, amigo de Lorca e influenciador de Gerardo Diego, produz na sua poesia não estarão desligadas da sua avidez literária pelas novidades.
A Vanguarda estética, na arte poética, era o seu terreno e Apollinaire, para nos situarmos só na literatura, foi uma das suas figuras tutelares.
Mas toda a Vanguarda artística da Europa contribuiu para a sua criatividade apaixonada, desde Picasso a Stravinsky.
Se dos pincéis do primeiro nasciam deformidades criadoras da pura ordem pictórica e do segundo uma música cujo algum caos formulava já a beleza harmónica do Pássaro de Fogo , da poética de Huidobro surgia a poesia que não se limitava a interpretar, mas a elaborar a própria criação, que não se circunscrevia apenas aos sentidos mas aos sons vocabulares.
São célebres e aforísticos os dois versos, da sua Arte Poética, em que questiona os poetas que se limitavam a cantar a rosa: Por qué cantáis la rosa, oh Poetas, Hacedla florecer en el poema.
Huidobro reclamava a sua quota parte de pequena divindade, que não só naquele tempo, mas sempre e desde os gregos se costumava atribuir aos poetas ( na poética hebraica e bíblica já não era obviamente assim).
El Poeta es un pequeño Dios , era o desafio final daquele poema de Huidobro.
Mas este poema possui um sentido, não é hermético, a sua gramática é habitável, podemos conviver com ela. É uma arte poética com sentidos que transportam de um lugar a outro, indica todo um programa que a história da literatura Latino Americana classifica como Criacionismo.
Ao contrário é o livro Altazor . Sendo também uma viagem, dir-se-ia que é intergalática. A personagem cai ou vem de uma queda auto-promovida desde um ponto do universo.
O livro apoia-se sobre um mito básico: Altazor é a encarnação do poeta descendo às profundidades, tal qual Dante, Enéas ou Orfeu, com a ajuda de um páraquedas, que a crítica usualmente afirma ser a poesia.
Esta queda, ou melhor descida controlada do poeta, é também um acto de revolta, e esta começa em Altazor com uma linguagem carregada de conteúdos , de informação, de ideologia. Nesta obra de capital importância para a poesia modernista hispânica, a dicotomia de Saussure contribui para a compreensão da sua linguagem: contém o elemento social que é a língua e o elemento individual que é a palavra.
É, porém, no último canto do poema que tudo o que concerne à linguagem - língua e palavra - se transmuta em puro som, apesar de alguns vocábulos que podem ser pronunciados, mas distituídos de qualquer sentido. Criação do próprio som, a emanar do «poema» do criacionista Huidobro? Na mesma direcção programática em que os poetas deveriam, sim, criar a rosa e não cantá-la?
O canto VII é, em todo o caso, o da incompreensibilidade, da fonética pura sem sentidos, da onomatopeica propositadamente identificável. Segundo Octávio Paz, o "dizer sem dizer", sem nenhuma correspondência semântica, no fundo, uma metalinguagem.
Esse livro em que a torrente se deslocaliza da palavra para o puro som é Altazor, uma obra considerada épica. Ela consiste na realização, levada a cabo pelo poeta, do seu credo artístico, da criação e criação literária dentro do próprio poema, do desmontar da linguagem gongorizante e simbolista, do provocar o cataclismo en la gramática, do louvor à individualização da mulher como entidade geradora, das combinações vocabulares curiosas, as palavras circulares, como por exemplo eterfinifrete (Canto IV, pág.66) ou ainda novas formas de dizer " al horizonte en la montaña" assim: al horitaña de la montazonte (pág. 60).
As experiências que esse poeta de Santiago do Chile, amigo de Lorca e influenciador de Gerardo Diego, produz na sua poesia não estarão desligadas da sua avidez literária pelas novidades.
A Vanguarda estética, na arte poética, era o seu terreno e Apollinaire, para nos situarmos só na literatura, foi uma das suas figuras tutelares.
Mas toda a Vanguarda artística da Europa contribuiu para a sua criatividade apaixonada, desde Picasso a Stravinsky.
Se dos pincéis do primeiro nasciam deformidades criadoras da pura ordem pictórica e do segundo uma música cujo algum caos formulava já a beleza harmónica do Pássaro de Fogo , da poética de Huidobro surgia a poesia que não se limitava a interpretar, mas a elaborar a própria criação, que não se circunscrevia apenas aos sentidos mas aos sons vocabulares.
São célebres e aforísticos os dois versos, da sua Arte Poética, em que questiona os poetas que se limitavam a cantar a rosa: Por qué cantáis la rosa, oh Poetas, Hacedla florecer en el poema.
Huidobro reclamava a sua quota parte de pequena divindade, que não só naquele tempo, mas sempre e desde os gregos se costumava atribuir aos poetas ( na poética hebraica e bíblica já não era obviamente assim).
El Poeta es un pequeño Dios , era o desafio final daquele poema de Huidobro.
Mas este poema possui um sentido, não é hermético, a sua gramática é habitável, podemos conviver com ela. É uma arte poética com sentidos que transportam de um lugar a outro, indica todo um programa que a história da literatura Latino Americana classifica como Criacionismo.
Ao contrário é o livro Altazor . Sendo também uma viagem, dir-se-ia que é intergalática. A personagem cai ou vem de uma queda auto-promovida desde um ponto do universo.
O livro apoia-se sobre um mito básico: Altazor é a encarnação do poeta descendo às profundidades, tal qual Dante, Enéas ou Orfeu, com a ajuda de um páraquedas, que a crítica usualmente afirma ser a poesia.
Esta queda, ou melhor descida controlada do poeta, é também um acto de revolta, e esta começa em Altazor com uma linguagem carregada de conteúdos , de informação, de ideologia. Nesta obra de capital importância para a poesia modernista hispânica, a dicotomia de Saussure contribui para a compreensão da sua linguagem: contém o elemento social que é a língua e o elemento individual que é a palavra.
É, porém, no último canto do poema que tudo o que concerne à linguagem - língua e palavra - se transmuta em puro som, apesar de alguns vocábulos que podem ser pronunciados, mas distituídos de qualquer sentido. Criação do próprio som, a emanar do «poema» do criacionista Huidobro? Na mesma direcção programática em que os poetas deveriam, sim, criar a rosa e não cantá-la?
O canto VII é, em todo o caso, o da incompreensibilidade, da fonética pura sem sentidos, da onomatopeica propositadamente identificável. Segundo Octávio Paz, o "dizer sem dizer", sem nenhuma correspondência semântica, no fundo, uma metalinguagem.
Ai aia aiaia ia aia ui Tralalí Lali lalá Aruaru urulario Lalilá Rimbibolam lam lam Uiaya zollonario lalilá Monlutrella monluztrella lalolú Montresol y mandotrina Ai ai Montesur en lasurido Montesol Lusponsedo solinario Aururaro ulisamento lalilá Ylarca murllonía Hormajauma marijauda Mitradente Mitrapausa
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