terça-feira, novembro 07, 2006

O Arado

Preso ao arado, atrás
do arado a dupla
condição de homem
e gume.
A terra apagada
começa a florir, no avesso
da terra nasce uma luz
do fundo
da terra vem um gesto
um húmus, uma vaga
de silêncios.
Onde está o caminho para o outro lado
o branco, o magma
para atravessar a dor da água?
Penetrar
até ser também raíz
cansada um dia
e repousar envolto
num lençol
de água.

1 comentário:

Fragmentos Betty Martins disse...

Lindo - além da beleza - o "mundo real" de muitos homens do nosso país.

"O céu rasga-se,
deixa passar a água para o mundo.
E um cheiro a medo cobre a encosta,
com os ruídos aflitos dos animais
e a tristeza miúda dos homens,
a lembrar um dia de caça.
Dá-se o último golpe na lenha,
os passos apressados na lama.
Quem abre a porta de casa
deixa entrar
a imagem do céu
que o macerou todo o dia.
Leva para a mesa as mãos
que escondeu na terra
e se tornaram raiz.
Mãos que não repousam,
seguram o rosto"

(P.José Miranda)

Beijinhos com carinho