A Poesia é o assunto do Poema - Wallace Stevens . Este Blog não respeita o Acordo Ortográfico.
sábado, setembro 30, 2006
Ondulações em S.Félix da Marinha
ovelhas sem úberes
carneirinhos inquietos
na alva
crispação do mar
até que o vento se gasta
e o espelho
nas águas, liso, se ilumina
volumoso silêncio
a pairar
sobre o abismo
num mar
em paz consigo.
Bom fim de semana!
sexta-feira, setembro 29, 2006
As a kid I believed in democracy - John Berryman
-Poesia de John Berryman, norte-americano, 1914-1972
poeta seminal da escola confessionalista
-A tradução possívelmente virá
As a kid I believed in democracy: I
'saw no alternative'—teaching at The Big Place I ah
put it in practice:
we'd time for one long novel: to a vote—
Gone with the Wind they voted: I crunched 'No'
and we sat down with War & Peace.
As a man I believed in democracy (nobody
ever learns anything): only one lazy day
my assistant, called James Dow,
& I were chatting, in a failure of meeting of minds,
and I said curious 'What are your real politics?'
'Oh, I'm a monarchist.'
Finishing his dissertation, in Political Science.
I resign. The universal contempt for Mr Nixon,
whom never I liked but who
alert & gutsy served us years under a dope,
since dynasty K swarmed in. Let's have a King
maybe, before a few mindless votes.
(Dream Song 105)
quarta-feira, setembro 27, 2006
América, América
Eu sou o poeta do rio Hudson e das alturas acima dele
as luzes, as estrelas e as pontes
também por auto-nomeação sou poeta laureado do Atlântico
-do coração dos povos, cruzando a
nova América.
Eu carreguei com toneladas de ilusão , esperança,
adquiridas suando febrilmente em trânsito
na 3ª classe para o desconhecido e afastado
Por isso devo descobrir e descrever o reino da emoção.
Para mim sou o poeta do jardim-escola (na cidade)
e do cemitério( na cidade)
E do extâse e do ragtime e também da secreta cidade
no coração e na mente
Este é o cântico natural próprio da cidade no século XX.
É em parte verdadeiro que uma cidade é uma «tirania
de números»
(É o cântico do homem urbano e
do eu metafísico
Depois das primeiras duas Guerras Mundiais do século XX)
---É o ego da cidade, olhando de janela a janela
iluminada
Quando os rectângulos e frinchas de débil luz dourada
Brilham à noite, em blocos sombrios como as lages dos túmulos,
Escondendo muitas vidas. É a consciência da cidade
Que vê e diz: mais: mais e mais: sempre mais.
(Tradução de J.T.Parreira)
terça-feira, setembro 26, 2006
segunda-feira, setembro 25, 2006
O Deus visível
Começou pelo silêncio
que pairava sobre o bafo
dos animais na estrebaria
Começou
a incorporar as coisas
nos seus olhos
a despir a noite
que cai
aos pés do dia
Começou por uma Estrela
e na caligrafia
dos Profetas
como dizer de outra maneira
o que os pastores
guardaram da visão
nocturna na memória?
Começou nas sombras
a iluminar
a própria luz.
3-9-2006
sábado, setembro 23, 2006
Lila Downs: A Menina
Sumário:
- Lila Downs (Mexico)
Visit : www.liladowns.com
Bom fim de semana, na fronteira com um pé na poesia e outro na música.
sexta-feira, setembro 22, 2006
America, America! de Delmore Schwartz
I am a poet of the Hudson River and the heights above it,
the lights, the stars, and the bridges
I am also by self-appointment the laureate of the Atlantic
-of the peoples' hearts, crossing it
to new America.
I am burdened with the truck and chimera, hope,
acquired in the sweating sick-excited passage
in steerage, strange and estranged
Hence I must descry and describe the kingdom of emotion.
For I am a poet of the kindergarten (in the city)
and the cemetery (in the city)
And rapture and ragtime and also the secret city in the
heart and mind
This is the song of the natural city self in the 20th century.
It is true but only partly true that a city is a "tyranny of
numbers"
(This is the chant of the urban metropolitan and
metaphysical self
After the first two World Wars of the 20th century)
--- This is the city self, looking from window to lighted
window
When the squares and checks of faintly yellow light
Shine at night, upon a huge dim board and slab-like tombs,
Hiding many lives. It is the city consciousness
Which sees and says: more: more and more: always more.
quarta-feira, setembro 20, 2006
Poema para um futuro Outono
Quero que saibas que ainda
não tens saudades minhas
Espera o tempo
em que a luz do outono
vai entrar
por uma janela cinzenta
E um cristal emergirá do silêncio
das tuas lágrimas
Espera
que as praças fiquem
com a luz amarela das folhas
Nem mesmo no dia em que rostos
parcialmente escondidos
por detrás de lentes tristes
sigam o corpo
ainda não terás saudades minhas
A saudade é uma névoa que inicia
levantar-se sobre as coisas
que sempre dividimos.
19-9-2006
domingo, setembro 17, 2006
Teatro
Herberto Helder
O actor em cima
de uma peça
dos adereços
levanta uma perna
equilibra o bico
do sapato, depois a outra
mostra o caminho
acende os olhos
( entre o público
levanta-se
um ar
de espanto, uma nuvem
uma dúvida)
põe e tira os olhos
que atira à plateia
o actor
faz uma combustão
com palavras
que acende
nos silêncios
do público.
16/9/2006
sábado, setembro 16, 2006
Lista
Índice de poemas publicados em Literary Kicks
Um sítio de poesia impregnado da cultura e da história da Beat Generation. De Jack Kerouac a Allen Ginsberg.
JTParreira: Recent Poems
Action Poetry: The Cock (Published)
Action Poetry: A Brasileira do Chiado (Published) Editor's Note: great!
Action Poetry: The Bullfight (Published)
Action Poetry: The fire that sleeps (Published)
Action Poetry: The Millennium (Published)
Action Poetry: The Flamenco Dancer (Published)
in Literary Kicks
where literature lives online
sexta-feira, setembro 15, 2006
A Poesia da paleta de Paul Klee
Entre aguarelas e óleos que marcaram com a variedade das formas e das cores da subtileza, dos sinais e dos símbolos quase hieroglíficos, toda a arte ocidental das primeiras décadas do século XX, ao pintor suíço ainda restou tempo para honrar o latino Horácio e a arte poética deste, ao fazer poesia como pintura falada.
Fala-se sempre de Picasso que marcou o século passado porque concedeu à história universal da pintura um adjectivo e um significante ( isto é ou isto parece um picasso ), fala-se muito menos de Klee que deu no entanto à pintura as formas da cor, fazendo com que a luz deixasse de ser incolor e volátil, sendo curioso que foi na Tunísia e às portas do deserto que renovou conceitos sobre a luz.
Tudo isto vem a propósito da poesia de Paul Klee, não da poesia que habita uma boa parte dos seus quadros, mas da sua escrita poética propriamente dita.
Os Poemas de Paul Klee, em versão castelhana de 1995, numa edição de «La Rosa Cúbica», de Barcelona, escritos entre 1899 e 1933, porque o pintor achava que havia compatibilidades em ambos os trabalhos de criação, a poesia e as artes plásticas, produzindo assim intertextualidades ao nível estético, leituras paralelas, hierarquizando por vezes arte poética e arte pictórica.
Uma declaração do próprio pintor, quase nos leva porém a pensar que todo o seu trabalho pictórico foi condicionado pelo facto de ser sobretudo poeta. « No fundo sou poeta, mas o saber que o sou não deveria ser um obstáculo nas artes plásticas».
A poesia de Klee é poesia sem mais nada, quase minimalista, da ordem da filosofia antecipada do pós-moderno less is more. É ainda a poesia da sua pintura, sem concessões ao expressionismo germânico da época, sem perplexidades nem temas lancinantes, submetido apenas ao rigor da necessidade de se deslumbrar com a luz. E então essa luminosidade veio através da palavra poética.
Adquiri um fragmento de céu
Tu me tens dado a luz de novo na beleza.
Mas hei-de sofrer antes de iluminar.
São invejados os pássaros
evitam
pensar no tronco e nas raízes
e satisfeitos se balançam, ágeis, o dia inteiro
e cantam nas pontas dos últimos ramos.
____________________________________
-Artigo editado in Atuleirus, em 7/10/2005
e in Blocos-Portal de Literatura e Cultura, s/data.
quinta-feira, setembro 14, 2006
«Correio do Vouga» publica Pássaro Azul em Espaço Comum
Director: Querubim Silva
Director Adjunto: Jorge Pires Ferreira
Rua Batalhão Caçadores Dez, nº 81 - 3810-064 AVEIRO
Cultura
Ecumenismo
Espaço Comum
Pássaro azul.
There’s a bluebird in my heart
that wants to get out
Charles Bukowsky
O pássaro azul está
dentro do meu coração
voa sobre rios que confunde
com um delta
não o posso deixar
nunca só, é bastante
esperto para perceber
que o silêncio
se bater, é a morte
dentro do meu coração
às vezes dou-lhe
muito trabalho, debate-se
com o veludo
de sonhos enganosos
esse pássaro azul que está
dentro do meu coração
algumas vezes espreita
no globo ocular
para se fazer entender
outras vezes usa
a música suave
que faz dançar
as minhas mãos, às vezes
num buraco negro
é onde vou dar com ele
no espaço, triste a
respirar, dificilmente
o azul.
João Tomaz Parreira
quarta-feira, setembro 13, 2006
e.e.cummings: de XLI, &(and) 1925
-Poema publicado em http://papelderascunho.net
em 18-1-2006
gosto do meu corpo quando estou com o teu
gosto do meu corpo quando estou com o teu
corpo. é algo completamente novo.
Músculos melhores e mais vigor.
gosto do teu corpo. gosto do que faz,
gosto dos seus modos. gosto de sentir a espinha
dorsal do teu corpo e seus ossos, e o tremer
constante-tranquilo que
outra vez e outra e outra ainda
beijarei, gosto de beijar-te aqui e ali,
gosto, de afagar lentamente a indecorosa penugem
da tua pele eléctrica, e isso que vem
sobre a carne despida … E grandes olhos amor em migalhas,
e gosto talvez do calafrio
que me passa de ti absolutamente novo
(Tradução de J.T.Parreira)
i like my body when it is with your
i like my body when it is with your
body. It is so quite new a thing.
Muscles better and nerves more.
i like your body. i like what it does,
i like its hows. i like to feel the spine
of your body and its bones, and the trembling
-firm-smooth ness and which i will
again and again and again
kiss, i like kissing this and that of you,
i like, slowly stroking the, shocking fuzz
of your electric fur, and what-is-it comes
over parting flesh . . . . And eyes big love-crumbs,
and possibly i like the thrill
of under me you so quite new
(e.e.cummings)
segunda-feira, setembro 11, 2006
O Homem em Queda
-Fotografia do homem em queda
-Poema, escrito hoje.
-Poema «Despair» ou LXVI, de e.e.cummings, dedicado a Anne Barton, 1930
O SALTO
Deve ter sentido que voava
do alto da manhã
da janela debruçada
para os sonhos
a cabeça veloz
os braços serenos
para a tranquilidade
os pés firmes
no ar
sentia que voava
DESPAIR
nothing is more exactly terrible than
to be alone in the house, with somebody and
with something)
You are gone. there is laughter
and despair impersonates a street
i lean from the window, behold ghosts,
a man
hugging a woman in a park. Complete.
(e.e.cummings)
domingo, setembro 10, 2006
Na Véspera
SUMÁRIO DO DIA:
-No primeiro aniversário de Poeta Salutor, a coincidência com uma data, o nine/eleven. E, neste 2º ano, um novo modo de abrir as postagens com um sumário do dia.
-Fotografia tirada de Jersey City, em Julho de 1991.
-Poema dedicado a Nova Iorque, escrito em 11/10/2001
Nova Iorque, Nova Iorque
Só agora decidi olhar para o céu
dentro da minha cabeça
Nova Iorque, Nova Iorque
tu que foste apedrejada
por pequenos profetas animados
no meio do deserto
Só hoje decidi pôr os olhos na linha
do teu céu mortalmente
atingida por lâminas de aço
nesse céu administrado
em nuvens de poeira
Nova Iorque, Nova Iorque
como eu queria abraçar o teu pescoço
de altiva mulher de Modigliani.
sábado, setembro 09, 2006
Laudatório: Ángel Laudier
En todo el mundo, en voces de alegría
se oye un nombre de Cuba que en los labios florece.
Lo alzan quienes trocaron un perenne anochece
por el radiante despertar del día.
El eco de ese nombre que entre los hombres crece
como crecen los días en la costa bravía,
es también porque orienta hacia la exacta vía
del mundo de justicia que ya en Cuba amanece.
Oligarcas del Norte odian todo hombre puro
que luche junto al pueblo en el combate duro,
como fue el de Bolívar, con Martí siempre fiel.
!Hacer que todos vean la luz cada mañana,
y que todos vivamos en dignidad humana:
tal la heroica epopeya de Cuba con Fidel.
(Ángel Laudier, 1910, Prémio Nacional de Literatura)
sexta-feira, setembro 08, 2006
Poema com uma epígrafe
«O mar levanta as suas lâmpadas»
António Ramos Rosa
O mar levanta-se acima dos faróis
Por vezes
quebra o seu cristal
de algas verdes
sobre as rochas
O mar lança sinais
de desespero para a praia
dos seus domínios
onde
dá a embriaguez da morte
No mar a saudade levanta
ferro e as velas
alinham o horizonte.
9/2006
Bom fim de semana!
quarta-feira, setembro 06, 2006
Agência de Viagens
A morte está viva
nos arredores de Roma, uma coluna
um arco, um braço
gigantesco que assegura
o tamanho do Império
um pé, uma cabeça coroada
com os louros, uma harpa
desenhando o relevo do silêncio
eles sabiam como conservar
o presente.
14-8-2005
terça-feira, setembro 05, 2006
Adolescências
Eram bastante bons
aqueles tempos de ódio,
em que planejávamos nossos assassinatos,
pelo simples prazer de nos vingarmos:
eu te via com os dedos na tomada,
tu me vias sufocada pelo gás.
Tempos em que sorrias ao atravessar a rua,
e eu achava graça em ser atropelada;
tempos em que queríamos fazer um filho,
para espancarmos juntos,
nos dias de ócio;
em que eu te servia de escarradeira,
em vez de cozinheira e passadeira.
Depois, veio o amor,
que é como um lenço em que se assoa,
ou mãe que chicoteia e nos perdoa.
Hoje afago-te as corcovas
e lustro-te as botas novas.
(Leila Míccolis)
segunda-feira, setembro 04, 2006
Site da poeta brasileira Leila Míccolis
Site de Leila Míccolis
RaBicho, coluna quinzenal de Bárbara Benevento, em prol dos animais
Gatolândia: poesia de J. T. Parreira
domingo, setembro 03, 2006
e.e.cummings, morre a 3/9/1962
Edward Estlin Cummings dies Sep. 3, 1962 of a brain hemorrhage after splitting wood.
in www.litkicks.com, com 2 poemas traduzidos de J.T.Parreira em Action Poetry
sábado, setembro 02, 2006
Álbum
sexta-feira, setembro 01, 2006
Alejandra Pizarnick (Buenos Aires, 1936-1972)
tu voz
en este no poder salirse las cosas
de mi mirada
ellas me desposeen
hacen de mí un barco sobre un río de piedras
si no es tu voz
lluvia sola en mi silencio de fiebres
tú me desatas los ojos
y por favor
que me hables
siempre
#
Relutei muito com esta tentativa de tradução, pela complexidade aparente dos versos da grande poeta portenha. Mas vou arriscar:
Presença
tua voz
neste não poder deixar-se as coisas
do meu olhar
elas me despojam
fazem de mim um barco sobre um rio de pedras
se não é a tua voz
chuva única no meu silêncio de febres
tu me desatas os olhos
e por favor
fala-me
sempre