quarta-feira, junho 25, 2014

RETROSPECTIVA



para o José Monteiro (1956-2014)

Não, era a vida à tua maneira
à tua maneira que as cores saíam          
da hibernação
dos tubos, de dentro dos teus olhos
as voltas que as tintas davam, uma volta
ao mundo, nem Lewis Carrol descreveu
túneis  para o País das Maravilhas
tão cúmplices das tuas fantasias, algumas
geométricas engoliam-nos
e ficávamos a respirar com o silêncio muito aberto.

25-06-2014

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sexta-feira, junho 20, 2014

A Coroa


(Annibale Carracci, óleo s/tela, 1585)



Repouso a minha cabeça para a coroa
de espinhos, ostentarei
o silêncio da flor envergonhada
com flechas no lugar das pétalas

Poderia no fim da vida
ter uma coroa que me amaciasse
a cabeça, mesmo que o reino fosse pesado
uma coroa limpa

Mas não, eu não poderia suportar uma coroa
que esmagasse em mim o meu amor
escarlate pelo mundo
para ter um reino na terra, se assim fosse
teríeis outras razões para a minha morte. 

20-06-2014

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sexta-feira, junho 06, 2014

No Blog Crebas. Blogaliza.Org: Traduções de um poema de Seamus Heaney







NO BLOG CREBAS.BLOGALIZA.ORG:




Poemas (LXIII): Fragmento de «Field Work» (Traballo de campo), de Seamus Heaney
Published by Miro Villar under Poesía,Versións ou traducións




Field Work (Traballo de campo, Xerais, 1996, reeditado en 2005 por La Voz de Galicia), de Seamus Heaney, con introdución e tradución do poeta Vicente Araguas, publicouse como primeiro número da colección de poesía Ablativo Absoluto, agora en triste liquidación. Entre os seus textos inclúe o poema que lle dá título ao libro, dividido en catro partes das que agora ofrecemos a primeira en versión orixinal, na versión galega de Araguas e noutra versión portuguesa de J. T. Parreira, con sensibles diferenzas de matiz.


Field Work


I
Where the sally tree went pale in every breeze,
where the perfect eye of nesting blackbird watched,
where one fern was always green
I was standing watching you
take the pad from the gatehouse at the crossing
and reach to lift a white wash off the whins.
I could see the vaccination mark
stretched on your upper arma, and smell the coal smell
of the train that comes between us, a slow goods,
waggon after waggon full of big-eyed cattle.
(Seamus Heaney)




Trabalho de Campo


Onde a acacia palidecía a cada brisa,
onde espreitaba o ollo perfecto do merlo aniñando,
onde un fento estaba sempre verde.
Eu ficaba a ollarte atravesando o curral
desde a caseta do gardabarreiras ata o cruce
e como estendias a man para recoller a roupa lavada das toxeiras.
Podía ver a marca da vacina
dilatada no teu antebrazo, e cheirar o cheiro a carbón
do tren que pasa entre nós, un mercancías lento,
vagón tras vagón cheos de gando de ollos grandes.
(Tradución: Vicente Araguas)




Trabalho de Campo


Onde descorava o salgueiro a cada brisa,
onde o olho do merlo amante vigiava,
onde o feto estava sempre verde,
eu ficava parado a observar-te
ias da cancela do curral à encruzilhada
e estendias a mão para colher a roupa limpa nos tojais.
Eu podia ver a tua marca da vacina
retesada no antebraço, e cheirar o cheiro a carvão
do trem que entre nós passa, mercadorias lento,
vagão após vagão cheio de olhos grandes do gado.
(Tradução: J. T. Parreira)

O MURO DAS LAMENTAÇÕES



(Mulheres junto ao Muro, foto antiga retirada da Web)


É o som dos sapatos que se ouve
para não acordar os mortos, o silêncio
envolve os murmúrios
Os carros passam longe, noutra civilização
Mãos e orações trocam papéis com as pedras
 As pedras conseguem há milénios
guardar tudo
o que diz o povo com a cabeça rente ao muro.

05-06-2014
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