todos nascemos com um rio pelas mãos
e aloendro batendo nos lábios
com a noite em busca de si mesma
imaginando ter ela um avesso
uma face oculta clara
que nos esclareça os sonhos que vamos
deixando germinar
quando nascemos canta o céu
e chora a terra, porque logo
nos esquecemos
que só a lama é o poiso dos pés
e se batemos asas nem às copas
das árvores subimos, não temos
envergadura nem ternura na voz
que cheguem para a majestade
quando nascemos somos duros,
dói-nos o ferro da pele, não sabemos nada
nem que o rio a cada um de nós dado
é vidro polido nas nossas mãos
e nos mergulha, solitários, não na placenta materna
mas na água limpa das novas madrugadas
onde não se vê noite, nem o dia tem rosto
mas só a corrente tem sentido
29/10/12
Inédito de Rui Miguel Duarte