segunda-feira, setembro 23, 2013

Baile Gitano


(Baile Gitano, 1914, Anglada-Camarasa
Museo Carmen Thyssen, Málaga)



Era uma água corrente, uma cascata
os seus vestidos
o baile era um céu ao pôr do sol
eu queria a gruta profunda dos seus olhos
que mundo de princípios escondia
porque era uma cigana
e suas mãos apaixonavam-se
no ar quando dançavam.

23/9/2013
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segunda-feira, setembro 09, 2013

O MESMO POEMA, SEGUNDO SHELLEY





Tantas luchas que há costado, / tantos afanes en vela”
Pedro Salinas                                                                


Há anos que escrevo o mesmo poema
os meus dedos
conhecem o caminho e guardam silêncio
conservam o que tenho
para que ninguém tome a minha coroa
há anos que gasto as minhas mãos
nas mesmas pedras

O mesmo poema lavra-se
lava-se cada dia na corrente sanguínea
para as visitações da divindade

Não há novas palavras é engano
dos dicionaristas, polir palavras
para serem novas como os que restauram
telas ou as colunas do Parténon

Por isso há anos que escrevo o mesmo poema
sem aparências, não há outros
os poemas são como os pássaros de Salinas
o mesmo pássaro imenso.

8/9/2013
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