sexta-feira, agosto 26, 2011

O Sino Solene


O sino solene navegou como nuvem
à tona das casas
o som cavo arrastou-se indolente
pelos telhados da aldeia xistosa
escorreu pelas paredes
como a pachorra das vacas
nas horas de calma
(ao longe parecia até o urro de um animal ferido
possante e persistente)


foi então que o povo devolveu o eco
como murmúrio de vizinhas.
Tinha morrido o senhor abade.


26/8/11
Inédito de Brissos Lino

segunda-feira, agosto 15, 2011

O Último Cavalete de Rembrandt

Um espelho sem moldura
guarda entre a prata e o vidro
um silêncio

uma cama simples
para começar
as surpresas do sonho

um lugar vazio
de uma cadeira partida, uma mesa
magra, rústica, vítima da fome

o último quadro
de onde os olhos de Rembrandt
jamais regressam.

15/8/2011

sábado, agosto 13, 2011

Testamento do pintor Van Rijn


Algumas roupas de linho
ou lã, minhas coisas de pintor
lições de anatomia
para chegar
dos tendões às artérias
da alma, alguns quadros
que riscarão para sempre
a mediocridade
da história da pintura.

13/8/2011

quinta-feira, agosto 04, 2011

Árvores São Estandartes

Poema inédito de Brissos Lino

árvores são estandartes na planície
espetados na linha do horizonte
como se a terra ali morresse
ensaiam custosa subida aos céus
num tempo sem tempo
seduzem-nos a trepar também
como Éolo
a soprar uma nuvem branca

de caminho olhamos os ninhos
como se fôssemos pássaros
e em baixo os homens
feitos formigas dispersas
desordenadas
à toa.

2/8/11